Microsoft e Vaticano criam réplica digital precisa da Basílica de São Pedro; veja imagens

Uma parceria entre a Microsoft e o Vaticano vai permitir que pessoas de todo o mundo, usando seus celulares e computadores, possam usufruir de uma experiência imersiva na Basílica de São Pedro. Anunciado nesta segunda-feira (11), o projeto fornece um gêmeo digital interativo do espaço que pode ser acessado pelo navegador.

Tanto a Microsoft quanto o Vaticano descrevem o projeto La Basilica Di San Pietro: AI-Enhanced Experience como algo revolucionário e histórico. Eles dizem que o projeto tem foco na preservação histórico-cultural e da memória da Basílica para as futuras gerações, mas também citam a relevância geral que une “arte, espiritualidade e tecnologia”. Brad Smith, vice-presidente da Microsoft, diz que esse é “um exemplo poderoso de como a inovação pode conectar as pessoas à história”.

Gêmeo digital recria a Basílica de São Pedro com precisão.

Outro ponto de destaque do novo projeto é o impacto educacional para educadores, historiadores e estudantes. Tendo em vista a essência de um gêmeo digital, que recria um espaço físico no mundo virtual, a proposta é tornar a visita mais acessível para pessoas que talvez não tenham a oportunidade de visitar o Vaticano.

Além de toda a importância, o site que hospeda o gêmeo digital oferece acesso à história, arquitetura, arte e muito mais, permitindo explorar áreas que normalmente não estão abertas ao público ou que nunca foram vistas antes, trazendo uma perspectiva mais profunda do local sagrado.

O projeto é mais uma grande demonstração computacional da Microsoft e de seus sistemas de Inteligência Artificial (IA). Shawn Wright, líder de design na Microsoft, reforça que o modelo funciona em tempo real e que, até mesmo para o ponto de vista dos videogames, o resultado chega a ser algo surpreendente.

Uma recriação precisa da Basílica de São Pedro

Um dos destaques do gêmeo digital da Basílica de São Pedro é a precisão com os detalhes. O projeto, que também contou com as empresas Iconem, Dadada e Trifilm, processou mais de 22 petabytes de dados em um conjunto de mais de 400 mil imagens, tendo como base técnicas de fotometria. O Microsoft AI For Good foi o responsável por processar e refinar todos esses dados. “Esse foi um dos maiores projetos desse tipo”, diz Brad Smith, vice-presidente da Microsoft.

Estátua de São PedroA Iconem foi a responsável por capturar as centenas de milhares de imagens que possibilitaram a criação do gêmeo digital da Basílica de São Pedro. (Foto: Wellington Arruda/TecMundo)

Também foram utilizadas técnicas de IA generativa para criar representações realistas e em 3D da estrutura do lugar. O cuidado com os detalhes pode, ainda, ajudar a detectar objetos com exatidão e até encontrar possíveis sinais de danos na estrutura física ou sinais de deterioração. Por exemplo, foi possível identificar áreas onde pequenas peças de algumas molduras estavam faltando, algo que não compromete a visualização a longa distância.

As imagens utilizadas para recriar a Basílica no mundo virtual foram capturadas por câmeras, lasers e drones durante três semanas pela equipe da Iconem. O projeto em si também recriou com precisão detalhes dos mosaicos e das peças disponíveis, além de manter a escala real dos objetos.

O projeto fotorrealista impressiona tanto quanto o espaço físico. O uso de IA generativa permitiu criar os “Gaussian Splats”, que representam pontos das imagens em questão. Ao juntá-los, o modelo da Microsoft ajusta as posições para que tudo se encaixe como no mundo real, os tamanhos e as orientações. Assim a estrutura é representada de uma maneira mais fiel em termos de qualidade da estrutura, incluindo profundidade de campo.

Dessa forma, é possível ver tanto o exterior quanto o interior da Basílica, além de interagir em tempo real com os objetos que estão nela. Um exemplo é a obra Pietà, de Michelangelo, que pode ser vista no cenário virtual. A escultura de mármore é representada no mundo digital com um alto nível de qualidade, recriando até mesmo a “assinatura” criada pelo artista. No total, são 42 pontos diretos para navegar pela Basílica, incluindo as Grutas, obras como a Cátedra de São Pedro e o Baldaquino de São Pedro, a Cúpula, a Praça de São Pedro e muito mais.

Wright explica, inclusive, que é possível visualizar reflexos e até mesmo diferentes efeitos de luz justamente por causa da captura das imagens. “Existem muitos segredos escondidos” e, agora, “qualquer pessoa no seu celular ou PC pode olhar para todos esses detalhes e começar a fazer [novas] perguntas”, diz.

O Padre Paolo Benanti, monge franciscano e professor de ética de IA na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, destaca no projeto essa transmissão de conhecimento de uma geração para a outra, “como sinais, linguagens e coisas do tipo”. Sobre o projeto e o uso de IA, ele afirma que essa nova interface de visualização “não é um substituto” de uma visita em pessoa à Basílica, mas sim um novo espaço para que mais pessoas possam conhecer o que há no Vaticano.

Desde fiéis, padres, teologistas, turistas, “ou mesmo pessoas que queiram visitar uma obra de arte” que esteja na Basílica de São Pedro, todas poderão ter acesso, mesmo que no meio digital, ao conteúdo em si, cita o Padre Benanti.

“E agora que temos esse modelo [de gêmeo digital], há uma nova maneira de estudar a Basílica”, disse, adicionando que agora é possível apenas utilizar simples comandos para estudar e entender o conhecimento arquivado, e também encontrar conexões entre as peças do espaço “de uma forma nunca antes vista”.

“Pedro está aqui”: imersão presencial

Além da experiência virtual, o Vaticano também preparou uma experiência imersiva, porém presencial, baseada no novo projeto. “Pétros Ení”, que significa “Pedro está aqui”, é o título das exposições que acontecem na Basílica de São Pedro. O nome tem inspiração em uma inscrição encontrada nas escavações de 1940, em um espaço no qual acredita-se ter sido o túmulo de São Pedro.

Tive acesso antecipado, junto a outros colegas da imprensa, às duas exposições com base em projeções criadas pelo estúdio Dadada. A proposta é combinar todo esse contexto histórico, refletindo as reconstruções digitais da Basílica com o apoio visual fornecido pela captura das centenas de milhares de imagens — tanto que são exibidas, também digitalmente, as mudanças no local ao longo dos séculos.

Em uma das exposições, é possível assistir em telões todas essas mostras e também interagir com quadros que trazem narrações sobre as obras. Eles ainda destacam inscritos antigos nas paredes, além de projetar outros tão relevantes quanto. É possível ouvir as descrições do conteúdo, por exemplo, enquanto você trafega de um lado para o outro.

Basílica de São PedroExperiência presencial, baseada no gêmeo digital, traz um olhar mais íntimo sobre as obras da Basílica de São Pedro. (Foto: Wellington Arruda/TecMundo)

No entanto, há ainda uma visita aos Octógonos da Basílica de São Pedro. Essa já é uma visita mais exclusiva e especializada, permitindo o acesso de 600 visitantes por dia. Nós pudemos visitar as galerias ao andar pelos octógonos, visualizando as projeções com detalhes inéditos das obras, arquitetura, criação e também religiosidade do espaço.

Mais uma vez, essas são áreas não são comumente acessíveis ao público. A união entre o espaço físico e a tecnologia permite, porém, interagir de uma forma mais íntima com a Basílica. Por outro lado, também é possível acessar essa experiência por meio de um gêmeo digital.

*O jornalista viajou à Roma, Itália, a convite da Microsoft.

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