Embora seja um dos processos mais básicos de formação da Terra, a origem da tectônica das placas é um assunto polêmico capaz de incendiar qualquer reunião de geólogos. Apesar disso, todos concordam que a teoria em si é capaz de entregar uma estrutura coerente que nos permite não só explicar, mas também prever o comportamento da camada externa rígida da Terra.
Há também um consenso de que o caráter excepcional do sistema tectônico terrestre é uma das características exclusivas que nos distinguem de todos (ou quase todos) os planetas conhecidos no Universo.
Restam, no entanto, algumas questões. Quando a superfície da Terra se fragmentou em placas tectônicas? E quando essas placas começaram a se deslocar, colidir umas com as outras e mergulhar no interior do planeta? As respostas a essas questões variam imensamente, de 700 milhões de anos a mais de 4 bilhões de anos atrás, em nossa infância planetária.
Os vestígios mais antigos de placas tectônicas
Curiosamente, as teorias mais recentes jogam o desenvolvimento das placas tectônicas em tempos mais antigos. Uma pesquisa publicada na Nature em junho de 2023 sugere que a Terra desenvolveu seu sistema de placas tectônicas durante o período Hadeano, a era geológica mais antiga do nosso planeta, há 4,5 bilhões de anos.
A pesquisa foi feita com o uso de zircões, definidos no estudo como os únicos cristais detríticos que, além de datados com precisão, “são capazes de fornecer restrições à mobilidade litosférica abrangendo as escalas de tempo de centenas de milhões de anos”. Em entrevista à Live Science, o professor Jun Korenaga, da Universidade de Yale, afirma que a modelagem teórica apoia a existência de placas tectônicas em condições hadeanas.
A pesquisa com zircão e com a química de algumas das rochas sobreviventes mais antigas da Terra indicam que o nosso planeta recém-nascido já exibia algumas características semelhantes à de hoje, como oceanos e massas continentais. Essas evidências contrariam a visão tradicional de uma Terra primitiva, inóspita e coberta por magma, em condições extremas.
Outras teorias sobre o início da tectônica de placas
Teorias dizem que o nosso planeta recém-nascido já possuía oceanos e placas continentais.Fonte: Getty Images
Além da teoria de início precoce, alguns geocientistas, como Robert Stem, da Universidade do Texas, defendem o surgimento das placas tectônicas durante o Neoproterozoico, entre 1 bilhão e 541 milhões de anos atrás. Entrevistado pela Live Science, ele diz que essa época coincide com o surgimento dos ofiolitos, fragmentos da crosta oceânica empurrados para cima e incorporados à crosta continental.
O raciocínio é simples: a presença dos ofiolitos, bem como de rochas metamórficas chamadas xistos azuis, mostra que ambos foram formados em zonas de subducção, regiões onde uma placa tectônica se move para baixo de outra e depois mergulha no manto terrestre. Como a subducção é uma característica indiscutível da existência de placas tectônicas, essa é uma evidência concreta de que os processos tectônicos já estavam ativos.
Mas muitos geólogos contestam a teoria de Sterm, considerando-a conservadora, e defendem um início da tectônica ainda mais tardio, pois essas rochas indicativas de placas podem ter sido destruídas ou modificadas através do tempo. “A colisão Tibete-Índia ainda não acabou”, afirma à Live Science o professor emérito de geociências da Universidade da Califórnia em Los Angeles, Mark Harrison, mas muitas dessas rochas “recentes” já sofreram erosão.
Por que é tão difícil datar as placas tectônicas?
A maioria das rochas antigas pode ter sido destruída por processos posteriores.Fonte: Getty Images
A grande dificuldade em estabelecer uma data exata para o início da tectônica de placas vem, principalmente, da citada escassez de rochas muito antigas, pois a maioria delas foi destruída por processos geológicos posteriores. Além disso, o processo de interpretar evidências geológicas de bilhões de anos é muito complexo.
Cada evidência apresentada nessas diferentes teorias tem seu ponto franco. Por exemplo, embora os zircões sejam considerados precisos, a maioria deles veio de um só lugar: a região de Jack Hills, na Austrália, o que pode não ser representativo para o resto do planeta.
Como as rochas antigas podem não ter passado pelos mesmos processos das rochas mais recentes, elas podem parecer “esquisitas” ou distintas, pois refletem as condições da Terra primitiva.
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