Decidimos aproveitar nosso teste recente com o Nissan Sentra 2025 para abordar um tópico que ainda deixa muita gente confusa: afinal de contas, o que são e como funcionam as ditas “marchas simuladas” das transmissões do tipo CVT? O TecMundo responde!
Mas para entendê-las perfeitamente, é preciso dar uma pincelada no que é um câmbio CVT. A sigla significa Continuously Variable Transmission, ou Transmissão Continuamente Variável; nela não existe 1ª, 2ª ou 3ª marcha como nas outras. Ao invés de engrenagens com marchas fixas, duas polias se ligam por uma correia e alteram sua relação para fazer o carro andar.
Essas duas polias ligadas por uma correia transferem a força gerada no motor para as rodas.Fonte: Reprodução/Google
Para você entender melhor: todo câmbio possui engrenagens internas para suas marchas – uma engrenagem para a 1ª, outra para a 2ª marcha e assim por diante. Em um CVT, isso não existe, ou seja, o câmbio CVT é uma transmissão sem marchas. As duas polias variam seu diâmetro para mudar a relação de força que o veículo precisa para se mover.
Toda essa operação é controlado pelo quanto o motorista pressiona o pedal do acelerador, entre outros fatores. Como depende de muitas variáveis, o câmbio CVT acaba sendo capaz de entregar um número quase infinito de relações diferentes de força e fica variando entre elas o tempo todo, sendo essa característica a principal razão de seu nome.
Alguns câmbios automáticos (inclusive CVT) permitem trocas manuais por aletas atrás do volante.Fonte: Reprodução/Google
Há muitos detalhes técnicos no meio que não convém aqui, mas o que você precisa entender é que um câmbio CVT não tem marchas fixas como uma outra transmissão qualquer. Teoricamente, isso representa uma vantagem técnica por dar muito mais flexibilidade ao motor e ao motorista de ter seu carro sempre na melhor relação de força ou economia.
Entretanto, é justamente esse ponto que incomoda muitos motoristas, pois como não existem marchas para a transmissão passar, o carro simplesmente ganha velocidade sem progressividade. É como se o motor “travasse” em uma única faixa de rotações enquanto o veículo avança, uma sensação que faz boa parte dos condutores evitarem os CVT.
E é aí que entra o recurso das “marchas simuladas” presente em várias caixas CVT modernas. A ideia é simples: com o câmbio em D, o CVT atua como qualquer outro com suas relações variando constantemente. Se, porém, você acionar o modo manual da transmissão, o computador que comanda o câmbio ativa relações fixas virtualmente para simular marchas.
Modo manual dos câmbios automáticos pode ser representado pela letra M ou por símbolos de + e -.Fonte: Yuri Ravitz
Não entendeu? Calma que a gente explica. Tirando as transmissões manuais, toda caixa de câmbio moderna é controlada por um computador. No câmbio CVT que conta com marchas simuladas, é esse computador que estabelece um conjunto de relações fixas que simulam marchas a serem passadas pelo condutor para deixar a aceleração progressiva.
Ou seja: em D, você tem um CVT padrão. Já no modo manual, o computador “cria” marchas para você poder trocá-las manualmente, seja pelas aletas no volante ou na própria alavanca. Quem determina a quantidade de marchas criadas é a montadora do veículo: o Sentra que avaliamos, por exemplo, conta com oito marchas simuladas no modo manual.
Essas marchas virtuais são criadas através de relações fixas pré-programadas pelo fabricante, exatamente como seria em uma transmissão convencional com engrenagens dedicadas. Cada marcha virtual tem uma relação específica que coloca as polias internas em posições determinadas, a fim de fazer o CVT se comportar temporariamente como uma caixa padrão.
Quando você ativa o modo manual em um carro com câmbio CVT, o D no painel é substituído por um M com o número da marcha usada no momento.Fonte: Reprodução/Volvo
Na prática, a única utilidade das marchas simuladas é quebrar o “marasmo” proporcionado pelo CVT em seu modo de operação padrão. Não há ganhos consideráveis em desempenho ou economia de combustível, mas pode ser algo útil em descidas de serra, por exemplo, uma vez que facilita a aplicação de um freio-motor para não sobrecarregar os freios.
Ainda existem carros com transmissão CVT que não oferecem simulação de marchas, porém, são raros. Por outro lado, existem casos como os Nissan Versa e Kicks que até oferecem as marchas, contudo, apenas quando o acelerador é pressionado com força; o condutor não pode escolher utilizá-las quando quiser.
Erroneamente, alguns acreditam que o CVT com simulação de marchas as utiliza o tempo inteiro, mas não é o que acontece. Quando a alavanca está em D, todo CVT funciona exatamente da mesma forma: sem marchas, relações “infinitas”. As marchas simuladas são um extra para você usar quando quiser, sem perder a eficiência típica do CVT convencional.