O maior “erro” de Albert Einstein

Os erros, na ciência, comumente são portas abertas para novas descobertas. Cada falha de processo, equívoco de pensamento ou ajuste inesperado de experimento pode revelar caminhos que não teriam sido explorados de outra forma.

Todo cientista comete erros, até mesmo aqueles considerados como maiores gênios. Entre estes está Albert Einstein, cuja mente brilhante revolucionou por completo nossa compreensão do Universo no século XX.

Curiosamente, foi justamente um dos seus “erros” que se tornou o ponto de partida para uma das questões mais intrigantes da cosmologia moderna. Essa é a história da constante cosmológica, considerada pelo próprio Einstein como o “maior erro da sua vida” e que acabou sendo uma pista antecipada para um dos maiores mistérios cósmicos: a natureza da energia escura.

Albert Einstein durante uma de suas aulas.Fonte:  Getty Images 

Em 1915, Albert Einstein apresentou ao mundo a Teoria da Relatividade Geral (TRG) pela primeira vez, uma nova descrição da gravidade que, em vez de ser considerada como uma força entre dois corpos, passou a ser entendida como a curvatura do espaço-tempo causada pela presença de massa e energia. Essa teoria permitiu explicar com precisão fenômenos que a gravidade newtoniana não conseguia, como, por exemplo, a precessão da órbita do planeta Mercúrio.

No entanto, quando Einstein tentou aplicar sua teoria ao Universo na totalidade, ele encontrou um problema. 

Na época, a maioria dos cientistas acreditava que o Universo era estático e eterno, ou seja, sem início ou fim, e sem expansão ou contração. As equações da TRG, porém, sugeriam que o Universo deveria estar se expandindo ou contraindo, e não permanecendo estático. Isso causou um dilema para Einstein, pois as equações da sua própria teoria contradiziam a crença comum de um cosmos imutável.

Segundo a cosmologia do início do século XX, o Universo era estático e eterno.Segundo a cosmologia do início do século XX, o Universo era estático e eterno.Fonte:  Wikipedia, Pablo Carlos Budassi 

Para resolver esse problema, Einstein introduziu um novo termo em suas equações: a constante cosmológica (denotada por?). Esse termo atuava como uma espécie de “força antigravitacional” que equilibrava a atração gravitacional da matéria, permitindo que o Universo permanecesse estático. A constante cosmológica representava uma forma de energia intrínseca do espaço, que “empurrava” o espaço para fora, contrapondo o “puxão” causado pela gravidade.

Matematicamente, a constante cosmológica adicionava uma pressão negativa ao modelo do Universo, ajustando as equações para que o Universo pudesse ser estático. Esse ajuste artificial parecia resolver o problema na época, mas levantava a questão: seria a constante cosmológica apenas uma gambiarra para salvar a teoria de Einstein?

No final da década de 20, em 1929, o astrônomo estadunidense Edwin Hubble e o padre e astrônomo belga Georges Lemaître fizeram uma descoberta de forma independente que abalou a visão do Universo estático: eles demonstraram que as galáxias estavam se afastando umas das outras, indicando que o Universo estava, de fato, em expansão.

Equações de Einstein da Teoria da Relatividade Geral.Equações de Einstein da Teoria da Relatividade Geral.Fonte:  Medium 

Foi nesse momento que Einstein, ao saber da descoberta da expansão do Cosmos, teria dito que a introdução da constante cosmológica foi o maior erro de sua vida, pois se ele tivesse aceitado as implicações de sua própria teoria, teria previsto a expansão do Universo antes mesmo da comprovação experimental.

Com a comprovação da expansão do Universo, a constante cosmológica parecia não ter mais utilidade. Os modelos cosmológicos puderam ser simplificados, excluindo e aceitando que o Universo começou a se expandir desde um ponto inicial — o Big Bang. Durante grande parte do século XX, a constante cosmológica foi considerada uma curiosidade histórica, um exemplo de como até mesmo os grandes gênios podem errar.

Representação da expansão acelerada do Universo.Representação da expansão acelerada do Universo.Fonte:  Wikimedia 

No final do século XX, entretanto, a história deu mais uma volta surpreendente. Em 1998, observações de supernovas distantes feitas por dois grupos independentes de astrônomos mostraram que o Universo não apenas estava se expandindo, mas essa expansão estava se acelerando, isto é, ficando cada vez mais rápida à medida que o tempo passa.

Para explicar a aceleração da expansão cósmica, os cientistas reintroduziram a ideia de uma forma de energia que preenchia o espaço e causava essa expansão acelerada. Essa forma de energia ficou conhecida como “energia escura”, e, curiosamente, ela poderia ser modelada pela reintrodução da constante cosmológica na teoria de Einstein.

Assim, o “erro” de Einstein acabou se revelando uma pista para um dos maiores mistérios da física moderna. Essa história nos lembra que a ciência é um processo contínuo de descoberta e reinterpretação. O que hoje é considerado um erro pode, com o passar do tempo, revelar-se uma solução, ou pelo menos uma janela para novos entendimentos.

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