Os fãs do chamado Body Horror (horror corporal, no português) estão muito bem servidos com o lançamento de A Substância, novo longa protagonizado por Demi Moore. Após vencer o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2024, as expectativas para o terror conduzido por Coralie Fargeat foram elevadas e felizmente, supridas com sucesso.
Audacioso, cruelmente familiar e (literalmente) visceral, a produção é do tipo que ficará grudada na sua mente por muito tempo após os créditos.
A Substância é aquele filme que você precisa ir assistir sabendo o mínimo possível
A Substância mostra a ex-estrela de cinema Elisabeth Sparkle (interpretada por Demi Moore) trabalhando como apresentadora de um programa fitness na TV após ser deixada de lado por Hollywood. Quando a emissora procura uma modelo mais jovem para substituí-la, ela se vê sozinha e sem perspectiva de retomar o sucesso que tinha na juventude.
Eis que surge uma oportunidade: ‘a substância’, um composto que permite alguém criar uma versão melhor de si mesmo. E por “melhor”, pode-se dizer “pelo menos 20 anos mais nova, livre de rugas, celulites e por aí vai”.
É nessa que Sue (Margaret Qualley), a versão ‘melhorada’ de Elisabeth, nasce. Cheia de energia jovem, ela tem tudo para conquistar o espaço deixado pela protagonista. As regras da substância, no entanto, devem ser seguidas à risca para dar tudo certo no experimento. O que, você provavelmente já imagina, não acontece.
Em 2024 ainda existe uma forma diferente e original de contar uma história sobre pressão estética? Felizmente A Substância veio para mostrar que sim.
Ousado, direto e muito (muito mesmo) sangrento, a produção de Fargeat escancara as pressões impostas às mulheres na era das cirurgias estéticas. E tudo isso é feito da forma mais grotesca e literalmente monstruosa possível.
A Substância é, acima de tudo, uma grande ironia. Isso porque, Fargeat faz questão de relembrar que o cinema foi construído na base do male gaze e, para isso, usa e abusa das tomadas utilizando o ‘olhar masculino’ para evidenciar a exploração do corpo feminino na tela.
Na maior estética de comercial da década de 1980, com muito neon e collants de ginástica coloridos, a sexualização da mulher está ali a todo momento.
Ângulos questionáveis, uso excessivo de cenas em câmera lenta e o foco repetitivo na pele e no corpo, por exemplo, são elementos usados com maestria para deixar o espectador desconfortável – ou, ironicamente, desafiar aqueles que são ‘cúmplices’ da exibição quase sempre sugestiva da mulher na telona.
Mesmo com mais de 2h30 de filme, A Substância não deixa a peteca cair por um minuto sequer e mantém o ritmo frenético até o fim, sempre testando mais alguma adição bizarra no roteiro e, claro, preparando o público para o grande final. O desfecho, inclusive, é daqueles que pode (e provavelmente vai) dividir muita gente.
Nos últimos vinte minutos, A Substância decide elevar o nível do terror, deixar os últimos resquícios tímidos de lado e mostrar para o que veio. Essa decisão, já aviso aqui, pode enojar os espectadores mais desavisados.
Doentio, sombrio, ousado e, surpreendentemente, divertido, A Substância estreia no dia 19 de setembro nos cinemas.