Morbid: The Lords of Ire é um soulslike que busca seu lugar ao sol, ao mesmo tempo em que dá um novo rumo à novata franquia. Isso porque seu título anterior era um game com visão isométrica e gráficos pixelados, que chamou atenção, principalmente por conta de sua ambientação horrorpunk.
Mas será que a nova guinada da franquia vai manter o sucesso, ou até mesmo ampliar a sua popularidade, sendo mais um título a beber da fonte do gênero soulslike? Confira o review completo realizada no PS5!
Deixando de ser “Diablo” para virar “Dark Souls“
Essa é de longe a melhor definição para explicar o que aconteceu com a saga. Para quem não sabe, Morbid: The Lords of Ire é a sequência de Morbid: The Seven Acolytes, que por sua vez era um jogo na famosa visão isométrica, que ficou popularmente conhecida em games como Diablo. Lançado em 2020, o jogo foi muito elogiado, principalmente por conta dos cenários e elementos visuais, mesmo com gráficos pixelados.
Morbid: The Seven Acolytes, o primeiro título da saga, trazia gráficos poligonais e uma jogabilidade no estilo DiabloFonte: Steam
O novo jogo pode ser uma amostra do caminho que a saga vai seguir, ou seja, investir no gênero soulslike, ou focando mais na ação em terceira pessoa, com um visual 3D e mais realista que o original. É preciso aguardar para ver, ainda mais depois da repercussão do título mais recente, já que ela pode não ser uma das melhores. Ao longo do review irei explicar os motivos.
O enredo coloca mais uma vez os jogadores no controle de Striver. Ela é uma guerreira cuja função principal é limpar os mundos dos temíveis Gahars, criaturas que ela achou ter eliminado no primeiro título. O que ela não sabia era que eles estavam apenas hibernando, para enfim partirem rumo à missão de dominar os mundos existentes.
Para deter a ameaça, mais uma vez Striver terá que cruzar diferentes universos para enfim colocar a paz no que restou do seu mundo. Tudo isso em jogo cuja ambientação horrorpunk não poupa esforços gráficos para mostrar mundos violentos e sanguinários, além de apresentar as mais horripilantes e temíveis criaturas.
Morbid: The Lords of Ire traz gráficos poligonais e um visual mais realistaFonte: Steam
Um soulslike de entrada
Podemos dizer que Morbid: The Lords of Ire é um soulike de entrada por contar com os principais elementos do gênero, mas ao mesmo tempo ser mais acessível que seus concorrentes. Por exemplo, no jogo não há um dos fatores mais irritantes apresentados principalmente nos jogos da From Software: morrer e perder todos os pontos de experiência. Ou seja, você pode sucumbir quantas vezes for necessário, que o seus pontos acumulados permanecerão os mesmo, o que já ajuda a introduzir novatos no gênero.
Outro elemento que facilita bastante é o comportamento de seus inimigos. Embora no primeiro encontro seja um tanto complexo mapear seus movimentos, com o tempo, você vai “decorando” os seus tipos de ataque, podendo dominar até aqueles que antes eram temidos. Para ajudar, a defesa no jogo é bem eficiente e, por mais que ela consuma suas barras de estamina, ainda sim é bem menor do que os outros soulslike.
Por fim, há também os cenários que, como nos títulos tradicionais do gênero, permitem que o jogador escolha seus caminhos, seja encarando inimigos mais fracos, ou optando por trilhas mais desafiadoras, que dão mais pontos de experiência.
Aos poucos é possível entender o comportamento de inimigos para ajudar no combateFonte: Reprodução / Voxel
Em Morbid: The Lords of Ire, mesmo que eles sejam bem mais lineares que seus concorrentes, ainda assim é possível literalmente correr, para evitar embates, já que são poucos os inimigos que permanecem no seu encalço o tempo todo. Em outras palavras, a grande maioria deles não ultrapassa o limite de suas determinadas áreas, bastando investir na corrida para deixá-los para trás.
Sistema de evolução pífio
Um dos pontos que mais decepcionam em Morbid: The Lords of Ire é justamente o sistema de evolução de Striver. Isso porque ele praticamente não existe, dando lugar a um conjunto de cartas que aumentam sua energia, estamina, e outros bônus. E que no fim das contas também não são tão relevantes assim.
Um ponto curioso é que essas mesmas cartas são escassas na parte inicial do game, e depois chegam de uma forma “acelerada”, o que só comprova a sua inutilidade. Sendo assim, um dos elementos cruciais de se dar bem em um soulslike, que é justamente evoluir seu personagem para não sofrer tanto, é inexistente neste game.
O game utiliza cartas como forma de conceder habilidades para a personagemFonte: Reprodução / Voxel
Já as armas até possuem um mecanismo de encaixe de runas. Cada cor representa o aumento e diminuição de atributos, como por exemplo mais dano e menos velocidade, e por aí vai. Mas na prática também não é nada tão eficiente, já que, por exemplo, optei por colocar o máximo de runas possíveis para aumentar o dano de uma espada, e ela por sua vez não subir tanto quanto deveria, mostrando que se trata mais de estética do que de eficiência.
E sobre equipamentos e armaduras… bom, eles não existem no jogo!
As armas contam com um sistema de runas para aumentar seus atributosFonte: Reprodução / Voxel
Jogabilidade vai do céu ao inferno
A jogabilidade do game se mantém dentro daquilo que se espera de um soulslike. O combate é honesto, podendo executar tanto a esquiva quanto a defesa de uma forma bem satisfatória, o que acaba deixando a critério do jogador a forma com que ele vai conduzir suas estratégias de batalha.
A cereja do bolo é um eficiente sistema de reação, muito semelhante ao que foi feito em Sekiro, onde apertando ao mesmo tempo os botões de defesa e ataque, faz com que a personagem repila um golpe, dando brecha para um ataque poderoso. Além de eficiente, é crucial aprender a usar o movimento, já que um dos primeiros chefes só pode ser derrotado com ele.
Sistema de reação pode ser uma excelente alternativa ao longo do jogoFonte: Reprodução / Voxel
Tudo poderia ser um mar de rosas, se não fosse o fato de, como dito no título deste review, o jogo não tropeçasse nas próprias pernas. O motivo é que, por mais que haja recursos para ajudar no combate, o próprio desempenho do jogo é o grande vilão. Isso porque há muitas quedas de frames ao longo do game, principalmente na sua parte inicial.
Em um dos casos mais graves, eu simplesmente precisei me esforçar mais que o necessário para derrotar um inimigo poderoso, pelo simples fato do desempenho não conseguir estabilizar os frames por segundos. Em outras palavras, a todo momento eles caiam de 60 fps para sabe se lá quanto, deixando tudo muito lento, inclusive o tempo de reação entre o comando executado no joystick e o que Striver reproduz no jogo.
Para completar, há um contestável sistema de insanidade, onde a todo momento a personagem pode ativá-lo por conta do gasto frequente da sua barra de stamina, ou até mesmo por recuperar a energia com certos elementos ativados nas cartas citadas anteriormente. Com isso, o mundo normal onde Striver se encontra começa a criar ramificações escuras, deixando a tela meio turva, além de adicionar “inimigos fantasmas” para criar um dificuldade a mais.
O modo insanidade faz com que raízes roxas surjam no cenárioFonte: Reprodução / Voxel
O problema é que tudo isso só torna o jogo mais pesado, e prejudica ainda mais seu rendimento. Sendo assim, entrar no modo insanidade é realmente um pesadelo para quem deseja apenas jogar o game em uma condição aceitável.
Por fim, também é preciso lidar com outros bugs frequentes, como a personagem ficar presa entre elementos do cenário, inimigos deitados que em um estalar de dedos se levantam e partem para o ataque, mudança repentina de pontos fixos em oponentes, entre muitos outros. Fica a torcida para uma grande atualização que solucione boa parte deles.
Prender a personagem no cenário, infelizmente, não é algo raro no jogoFonte: Reprodução / Voxel
Visual de gerações passadas
O visual de Morbid: The Lords of Ire também tem seus altos e baixos. Porém com mais elementos contra do que a favor. Merece elogios a forma com que os cenários são construídos, com uma profundidade bem executada, que também é uma característica de jogos do gênero soulslike
Por conta da história, é possível desbravar desde montanhas geladas, passando por favelas (sim, elas tem esse nome no jogo), até montanhas que parecem um planeta do universo de Star Wars, ou outra obra de ficção científica. Confesso que gostei muito dessa mistura, me deixando curioso e ansioso para o que viria em sequência, após um local ser finalizado.
Alguns cenários apresentam mais capricho do que outrosFonte: Reprodução / Voxel
Só que a execução de todos esses elementos é uma grande tragédia. A começar pela forma com que tudo é desenhado, dando uma sensação de estar diante de um jogo da geração passada, ou até mesmo de outras atrás. A todo momento é possível se deparar com elementos sem qualquer capricho, e que se destoam da composição de todo o cenário, como o que deveriam ser rochas, pedras, e muros.
O mesmo vale para muitos personagens, principalmente os famosos chefes de fase. Um deles, que deveria ser uma junção de corpos, como o que já vimos em tantos jogos e filmes, acaba se tornando uma bola de polígonos indecifráveis.
Os cenários poderiam ter um capricho maiorFonte: Reprodução / Voxel
Já outro, que até mesmo conta com uma cena de abertura divertida, em cima de um elefante com lâminas nas suas trombas, também é uma criatura mal desenhada cuja definição atrapalha até mesmo no combate, já que não é possível ver seus pés ou braços.
Com isso, a sensação é de que o jogo tinha muito potencial, mas sua “execução gráfica” acabou deixando muito a desejar, andando lado a lado com a simplicidade.
Gráficos deixam alguns inimigos indecifráveisFonte: Reprodução / Voxel
Vale a pena?
Como dito anteriormente, Morbid: The Lords of Ire pode ser considerado um soulslike de entrada. Isso porque o jogo consegue implementar os elementos que configuram um título do gênero, e ao mesmo tempo aliviar a mão para auxiliar os novatos. Além disso, sua ambientação favorece a exploração, e traz um sistema de combate eficiente.
Pena que todos esses elementos, que poderiam fazer do game uma das grandes surpresas do gênero, colocam tudo por água abaixo. Sendo no fim das contas um jogo com cara de trabalho inacabado pelo excesso de bugs, e com um visual que mais parece um game da geração passada.
Morbid: The Lords of Ire é um soulslike que poderia se destacar no gêneroFonte: Reprodução / Voxel
Nota do Voxel: 68
Pontos positivos (prós):
- Ambientação agradável e bem construída;
- Dificuldade no nível de um bom soulslike;
- Variedade de inimigos;
- Sistema de combate eficiente (quando o desempenho do jogo não atrapalha).
Pontos negativos (contras):
- Mais bugs que o aceitável;
- Gráficos de geração passada;
- Sistema de evolução ineficaz;
- Sem equipamentos ou armaduras, somente armas.
Morbid The Lords of Ire foi cedido pela desenvolvedora para review no PS5. O jogo está disponível para computador e consoles PlayStation, Xbox e Switch.