Observadores da instalação de pesquisa e observação oceânica Ocean Networks Canada (ONC), mantida pela Universidade de Victoria (UVic), no Canadá, acabam de fazer uma descoberta surpreendente: uma tempestade solar recente afetou o campo magnético da Terra de tal forma, que chegou a perturbar bússolas magnéticas instaladas nas profundezas do oceano.
Essas redes de observatórios submarinos, instaladas pela ONC nas costas leste e oeste do Canadá, chegam a atingir profundidades de até 2,7 quilômetros. Elas foram construídas para orientar os chamados Perfiladores Acústicos de Corrente Doppler, instrumentos que coletam dados sobre a velocidade e a direção das correntes oceânicas.
Segundo a presidente e CEO da ONC, Kate Moran, o fato de essas gravações de dados a quilômetros abaixo da superfície conseguirem registrar a magnitude da explosão solar sugere que “os dados podem ser úteis para uma melhor compreensão da extensão geográfica e intensidade dessas tempestades”, afirma ela em comunicado de imprensa.
Como a tempestade solar foi detectada no fundo do mar?
Dados das bússolas submarinas da ONC entre 9 e 12 de maio, mostrando a perturbação da tempestade solar.Fonte: ONC
No dia 14 de maio, enquanto os canadenses se deliciavam com o espetáculo de luzes e cores de auroras boreais, até mesmo em cidades improváveis como Toronto, Calgary e Vancouver, os pesquisadores da ONC percebiam anomalias assustadoras em seus instrumentos. O indicativo era de que se tratava de um grande terremoto.
No release da ONC, o especialista em dados científicos Alex Slonimer, que checou se os dados eram mesmo um terremoto, disse que aquilo não fazia o menor sentido, pois as mudanças nos registros eram muito duradouras e aconteciam em locais diferentes. “Então, investiguei se era uma explosão solar, já que o Sol esteve ativo recentemente”, afirmou.
Logo a perplexidade pela aparente “loucura” das agulhas das bússolas submarinas foi relacionada às perturbações magnéticas causadas pelo Sol. Ou seja, os desvios máximos coincidiam exatamente com a intensidade do brilho e da cor das festejadas auroras. Isso mostrou que, além de fornecer a medida da intensidade das tempestades, aqueles instrumentos eram também capazes de medir impactos de tempestades solares.
Qual a importância de detectar tempestades solares em oceanos?
Observatórios submarinos mundiais operados pela ONC.Fonte: Universidade de Victoria
O incidente observado pelos especialistas da ONC no funcionamento de seus observatórios tem desdobramentos importantes. Em primeiro lugar, esses equipamentos conseguiram fornecer informações exatas sobre a intensidade do impacto de átomos solares na superfície da Terra, mesmo sem poder avaliar possíveis influências na fauna marinha.
Mas há outra importante aplicação. Conforme o professor da UVic, Justin Albert, esses dados podem auxiliar os cientistas a compreender de forma mais confiável de que forma nosso planeta é afetado quando uma destas tempestades se aproxima. É como se a rede da ONC pudesse “fornecer uma janela adicional muito útil sobre os efeitos da atividade solar no magnetismo terrestre do planeta”, diz o físico.
Esse tipo de avaliação poderá ser crucial, afirma Albert, principalmente porque os próximos dois anos serão o pico do ciclo solar de 11 anos. Isso significa que, após uma aparente calmaria de 10 anos, eventos como o medido recentemente pela ONC podem ser um novo normal, se tornando “mais frequentes nos próximos dois anos, embora a variabilidade solar impossibilite a previsão exata de tais eventos”, conclui Albert.
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