Durante a reunião da Sociedade Sismológica da América (SSA), realizada em Anchorage, no Alasca, um pronunciamento ameaçador tratou de um assunto pouco conhecido: os tsunâmis de lago. Citando as localidades de Cowee Creek, Brabazon Range e Upper Pederson Lagoon, Bretwood Higman, da ONG Ground Truth Alaska, disse que são exemplos de tsunâmis lacustres ocorridos no Alasca.
Gerados por deslizamentos de terra em pequenos córregos, a maioria dessas ondas gigantes ocorreu em locais remotos até hoje, mas, segundo Higman, é só uma questão de tempo até que um tsunami atinja locais habitados, como o Lago Portage, próximo à cidade de Whittier, no Alasca, alerta Higman.
Em se tratando de uma relação de localidades de risco, o Lago Portage “está praticamente no topo da minha lista”, disse Higman. Por se tratar de uma geleira de recuo tidewater (ou geleira maré), ele flui para um lago e eventualmente para o mar. Além de Whittier, outras cidades mais populosas também estão na lista, como Eklutna, Seward, Valdez e Juneau, a capital do Alasca.
Como são formados tsunâmis em lagos?
Em regiões com geleiras de montanha, o tsunâmi pode ocorrer pelo derretimento da geleira.Fonte: Getty Images
Da mesma forma que os tsunâmis oceânicos, causados por eventos submarinos (terremotos, erupções vulcânicas ou deslizamentos de terra), os tsunâmis lacustres também se originam de atividades sísmicas. Essa forma, os fenômenos podem perturbar o leito do lago e deslocar altas quantidades de água.
No caso do Alasca e Colúmbia Britânica (no Canadá), explicou Higman em sua apresentação, os tsunâmis em lagos representam “um perigo emergente ligado ao clima”.
Com o aquecimento global, as geleiras que sustentam as paredes do vale ao seu redor derretem. Isso pode aumentar o risco de deslizamentos de terra, que podem causar os tsunamis em corpos d’água, existentes ou até mesmo em um lago formado pelo derretimento da própria geleira.
Tsunâmis lacustres são perigosos?
Tsunâmi causado por geleira no Canadá em 2020 teve mais de 100 metros.Fonte: Hakai Institute
Tsunâmis lacustres são sempre catastróficos, independentemente da região onde acontecem. O mais alto deles, ocorrido justamente no Alasca em julho de 1958, provocou ondas de até 524 metros de altura e se passou em um fiorde, um tipo de vale glacial inundado pelo mar. A causa foi um terremoto de magnitude 7,9, que provocou deslizamento de terra maciço na encosta da montanha.
Outro deslizamento de terra gigantesco (18 milhões de metros cúbicos de rocha) ocorreu na Colúmbia Britânica em novembro de 2020, provocando um tsunâmi no lago com ondas de até 100 metros de altura. O fenômeno devastou toda a paisagem do local, inclusive um antigo córrego chamado Elliot Creek.
O geomorfologista Marten Geertsema descreveu a cena, em entrevista à CBC: “imagine um deslizamento de terra com massa igual a de todos os automóveis no Canadá, viajando a uma velocidade de cerca de 140 quilômetros por hora quando atinge um grande lago”.
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