A plataforma Twitch, serviço de streaming de vídeo ao vivo que se concentra especialmente nas transmissões de videogame, tem sido alvo de muita discussão. Streamers famosos no Brasil chegaram a fazer vídeos em que falam sobre suas insatisfações com a plataforma.
Os relatos envolvem problemas sobretudo com ads e sua baixa remuneração. De acordo com Casimiro Miguel, o Cazé, a Twitch força que os produtores de conteúdo veiculem muitos anúncios para poderem ser bem pagos, o que torna as lives “inassistíveis”.
Já o streamer Luide, do perfil Luideverso, declarou em sua live no YouTube que a Twitch é uma “plataforma que não valoriza o produtor de conteúdo”. O streamer Alazonka também falou que pretende voltar ao YouTube.
Os profissionais acusam ainda que a Twitch, além de não remunerar bem os profissionais, não reconhece a importância da comunidade de usuários brasileiros.
Os únicos que seriam bem pagos são os maiores streamers, que são contratados da plataforma. Mas a maioria dos produtores de conteúdo, que são freelancers, estariam trabalhando para a Twitch e recebendo valores muito baixos.
Entrevista exclusiva com Mike Minton
(Fonte: The Information/ Reprodução)Fonte: The Information/ Reprodução
Para refletir sobre essa questão, o TecMundo fez uma entrevista exclusiva com Mike Minton, que é chief monetization da Twitch. No bate-papo, Minton revela os planos da plataforma para a revisão dos valores de subs (termo designar inscrições pagas nos canais, o que rende benefícios exclusivos para os espectadores), regulamentação da atividade de streamer e outras questões.
Ainda que ele tenha se esquivado de responder algumas perguntas, vale a conferir o que ele tem a dizer.
Tecmundo: Qual é a avaliação do programa Partner Plus até o momento? Quantos criadores de conteúdo brasileiros fazem parte do programa?
Mike Minton: Não podemos divulgar números específicos sobre a participação no programa Plus. No entanto, o que posso compartilhar é que, na região da América Latina, temos aproximadamente 161 mil streamers monetizando mensalmente na Twitch, incluindo Afiliados e Parceiros.
Qual é a avaliação da Twitch sobre a conversa do CEO Dan Clancy com os criadores brasileiros? O que a Twitch aprendeu e quais sugestões de melhoria foram recebidas?
Nós recebemos essa conversa com entusiasmo e valorizamos muito o feedback que recebemos de Hayashii, Mount e Choke7. É especialmente útil para nós ouvir dos criadores locais e o feedback que compartilharam sobre a importância da receita que ganham das assinaturas Prime, o interesse em um potencial TwitchCon Brasil, a integração do Pix e dos Bits, até mesmo o AV1. Acreditamos que a Twitch é uma comunidade, e é por isso que priorizamos ouvir nossa comunidade e levar seus feedbacks em consideração ao tomarmos decisões.
Os criadores brasileiros não viram a localização dos preços de assinatura como benéfica, uma vez que, apesar da conveniência para o público, o valor recebido diminuiu. Existe alguma chance de que esses valores sejam reconsiderados?
Nos esforçamos para atender às necessidades dos streamers em todo o mundo. Entendemos que os criadores em mercados como o Brasil têm necessidades únicas que analisamos com muita atenção. Não tenho detalhes específicos para compartilhar hoje, mas estamos revisando e atualizando os preços de assinatura em muitos mercados nos próximos meses para garantir que reflitam as dinâmicas locais do mercado e as flutuações cambiais.
O streamer Casimiro. (Fonte: Perifacon / Reprodução)Fonte: Perifacon / Reprodução
Recentemente, diversos criadores de conteúdo proeminentes do Brasil, como Casimiro, Luide, BRKsEDU e Alanzoka, comentaram sobre a dificuldade de alcançar retornos financeiros satisfatórios com a Twitch. Como a plataforma tem negociado com esses principais produtores de conteúdo?
Realizamos mudanças em nosso modelo de receita com anúncios e expandimos o programa Plus, além de investirmos em produtos como nosso aplicativo móvel, Hype Train e Bits, que ajudarão os streamers a ganharem mais receita fazendo o que amam. Além disso, estamos trabalhando em soluções adicionais de patrocínio para conectar os streamers a marcas e gerar receita adicional para eles. No geral, estamos trabalhando para aumentar a receita dos streamers e proporcionar mais previsibilidade.
Em relação aos criadores menores, uma das principais reclamações é o fato de que, embora tragam ganhos, os anúncios afastam a audiência. Como a Twitch está pensando em igualar a receita para os criadores e manter a audiência que se incomoda ao ver muitos anúncios?
A monetização na Twitch é baseada no patrocínio – os espectadores se inscrevem e interagem com seus streamers favoritos para apoiá-los. A publicidade funciona da mesma forma e descobrimos que os espectadores da Twitch estão engajados com os anúncios porque entendem que isso ajuda a apoiar os criadores que amam.
Compreendemos totalmente a preocupação desses criadores sobre os anúncios e seu impacto na audiência, por isso estamos muito focados em garantir que a experiência para os espectadores seja o mais agradável possível. Introduzimos anúncios que são menos disruptivos para os espectadores e damos aos streamers mais controle sobre quando exibem anúncios para garantir que não interrompam momentos importantes.
A Twitch se popularizou durante a pandemia e atualmente muita gente tem na plataforma a principal fonte de renda. (Vanessa Nunes/Getty Images)
Como a Twitch vê as iniciativas brasileiras para regular a atividade dos criadores de conteúdo? A empresa é a favor da regulamentação para transformar a criação de conteúdo em uma atividade profissional?
A Twitch valoriza transparência, bem-estar da comunidade e segurança, e é por isso que estamos comprometidos em cumprir todas as leis e regulamentações locais em todas as jurisdições onde operamos, incluindo o Brasil.
Quando se trata de profissionalização, devemos considerar diversos aspectos, como as necessidades específicas e preocupações da comunidade de criadores de conteúdo, fornecer diretrizes claras e proteger os interesses tanto dos criadores quanto dos espectadores, promovendo um ambiente seguro e justo para todos os envolvidos.