O Tesla Cybertruck, lançado há exatamente um ano, no dia 30 de novembro de 2023, é um dos veículos mais exóticos no mercado de carros elétricos atualmente, chamando a atenção do público desde sua revelação desengonçada por Elon Musk. A picape foi anunciada com grandes promessas, mas aparentemente nem tudo saiu como o esperado.
O primeiro problema da Cybertruck foi o atraso: a picape elétrica foi anunciada em 2019 e tinha início de fabricação previsto para o final de 2021. Porém, o veículo só chegou ao mercado no fim de novembro de 2023.
Os motivos por trás dos atrasos não foram revelados pela Tesla, mas a pandemia de Covid-19 deve ter sido um dos principais fatores. As linhas de produção de outros modelos da montadora também sofreram com engasgos durante esse período.
De toda forma, foram quase quatro anos entre a revelação da picape futurística e a sua chegada ao varejo. Esse atraso, embora aparentemente inofensivo, foi acompanhado por uma série de outras promessas não cumpridas.
Uma dessas expectativas falsas foi o preço: Elon Musk afirmou que a versão mais básica do carro seria vendida por US$ 39,9 mil (R$ 231,6 mil, conforme a cotação atual). Contudo, na tão demorada estreia, essa mesma variante saia por US$ 60,9 mil (R$ 354 mil).
O infame Tesla Cybertruck
Porém, o preço acima do esperado e o lançamento atrasado não foram as únicas polêmicas da Cybertruck. Depois que chegou ao mercado, os verdadeiros problemas de projeto começaram a aparecer — e são vários.
Porta-malas assassino
Talvez, um dos problemas de projeto que mais viralizou nas redes sociais foi a força da tampa do porta-malas dianteiro da Cybertruck. O componente é programado para fechar de forma automática.
Porém, a Tesla esqueceu de considerar que, às vezes, alguém pode esquecer a mão entre a tampa e o carro. A consequência? A Cybertruck podia tentar quebrar o dedo de usuários — e alguns youtubers tiraram a prova disso.
Felizmente, depois que o problema foi divulgado nas redes sociais, a Tesla lançou uma atualização de software para o carro e ele parou de tentar cortar as pessoas. Porém, continua sendo algo que é preferível evitar.
Para que retrovisor?
O Tesla Cybertruck oferece uma cobertura retrátil para a caçamba, e a montadora recomenda que o usuário dirija com ela fechada sempre que possível. O que a empresa também não contabilizou, porém, é que o componente obstrui totalmente o campo de visão do retrovisor interno.
Como alternativa, o motorista pode visualizar o que está atrás do veículo na tela central da Cybertruck. Porém, além de a solução não ser a ideal, a câmera não lida bem com luzes (faróis e sirenes, por exemplo) e não consegue se livrar de gotas da chuva ou outras sujeiras que podem atrapalhar a visualização.
Falha no pedal do acelerador
Poucos meses após a chegada às estradas, a Tesla convocou todas as unidades da Cybertruck para um recall. Cerca de 4 mil picapes foram chamadas para um ajuste no pedal do acelerador.
@el.chepito1985 serious problem with my Cybertruck and potential all Cybertrucks #tesla #cyberbeast #cybertruck #stopsale #recall ? original sound – el.chepito
O problema? O pedal do acelerador podia ficar preso no revestimento interno do veículo, prendendo o carro em um estado de aceleração involuntária.
Felizmente, a falha não ocasionou nenhum acidente real.
Erros de software aos montes
Ao longo do ano, não faltaram bugs para serem resolvidos na Cybertruck. Em fevereiro, por exemplo, donos da picape elétrica reportaram 25 erros críticos de sistema, incluindo avisos de que o carro poderia ficar totalmente sem energia subitamente.
Recall, de novo
Nos Estados Unidos, a Tesla foi obrigada a convocar o recall de Cybertrucks ao menos quatro vezes ao longo do ano. Na ocorrência de junho, o chamado recebeu 11 mil picapes.
O problema da vez estava no controlador do limpador do para-brisa. Um problema no motor do componente fazia ele receber uma corrente elétrica alta demais, gerando uma falha durante a ativação e potencialmente obstruindo a visão do motorista.
Proibido lava-jato
Ao comprar a Cybertruck, o consumidor recebe uma infinidade de instruções para manter seu veículo no melhor estado possível. Dentre as recomendações, a Tesla diz que lava-jatos podem causar problemas no veículo.
A forma apropriada para higienizar o veículo é ativando o modo “Car Wash” antes de começar o processo. Isso fecha todas as janelas, tranca a porta de carregamento, desabilita limpadores de para-brisas e mais.
Porém, a garantia da Tesla não cobre danos causados por erros no processo de limpeza.
Estrutura frágil
Externamente, a Cybertruck promete ser um tanque de guerra, mas as partes internas não são tão resistentes assim. Não faltam relatos online de que o interior do veículo é composto por material de baixa qualidade (plástico, colas e costuras).
Poor guy! The same one who had the rivet installed at the edge of the part he also had the windshield changed and NOW the “shift gears” just felt down & doesn’t stay in place!
Is a a very bad design for the mount of the visors!
I would never agreed to sign off on this design pic.twitter.com/sNg4g3yJUT
— Cristina Balan – STOP Forced Arbitration (@CristinaIBalan) April 21, 2024
Em alguns casos, o uso cotidiano faz esses defeitos ficarem ainda mais evidentes. No caso acima, por exemplo, o controle de marchas simplesmente cai e não volta mais para o lugar.
Cybertruck vs. poça d’água
Nem a estrutura externa é tão resistente assim: nessa demonstração comum, um motorista experimenta passar a Cybertruck por uma poça d’água em uma estrada de terra.
Rafael putting his @cybertruck to work on Kane Creek Road. pic.twitter.com/BCLaLg4rS1
— Kyle Field (@mrkylefield) March 14, 2024
Surpreendentemente, a Cybertruck não sobreviveu ao breve “mergulho”.
Inimigo da estrada
A Cybertruck é construído com placas sólidas de aço inoxidável, e Elon Musk adora divulgá-lo como carro indestrutível. Embora esse conceito pareça ser interessante em filmes de ficção científica, a física do mundo real não funciona da mesma forma.
Em veículos modernos, existem as chamadas “zonas de deformação programável”, áreas do carro que são projetadas para deformar em casos de colisão. Essa flexibilidade, embora torne o veículo “mais frágil”, garante mais segurança aos passageiros, uma vez que dissipa a energia de colisão e evita que toda a energia da batida seja transmitido para as pessoas.
No caso do Cybertruck, esse conceito foi aplicado, mas não em sua totalidade. A estrutura da picape aguenta bem a pancada, resistindo fortemente às deformações em alguns cenários. Em contrapartida, mais energia tende a ser despejada nos ocupantes — portanto, é quase uma sentença de morte.
E isso não é ruim apenas para os passageiros da Cybertruck: outros veículos que estiverem envolvidos no acidente também sofrerão danos ainda maiores em decorrência da colisão.
Capas de rodas autodestrutivas
As capas de rodas da Cybertruck, o acessório que complementa o visual futurista da picape, também sofreu com um erro de design. Se utilizada por muito tempo, a tampa começa a “comer” os pneus.
@charge.go Tesla Cybertruck wheel defect! #tesla #fyp #explore #cybertruck ? KNOCKED OUT – Instrumental Version – Canon
Atenção indesejada
A exótica aparência do Cybertruck chama a atenção, então o carro é o destaque das ruas que passa. Por si só, isso pode ser um incômodo para os motoristas que, por vezes, não querem que sua direção seja tão observada assim. Porém, esse não é o único problema.
Dada à infame estreia do Cybertruck — e provavelmente a publicidade negativa associada à imagem do dono da Tesla, Elon Musk —, o carro não é bem recebido em todas as comunidades. Nas redes sociais, motoristas da picape relatam ser alvos de insultos, assédio, dedos do meio e outros abusos enquanto dirigem seus carros.
Cybertruck não é vendida oficialmente no Brasil
Atualmente, a Cybertruck ainda é vendida em poucos mercados, e não está presente no Brasil de forma oficial. Se estivesse presente por aqui, o veículo enfrentaria uma variedade de regulações, como a obrigatória visibilidade do retrovisor interno.