Etarismo, pressão estética e mais: por que A Substância vem dando o que falar nas redes?

No final de setembro estreou nos cinemas brasileiros o filme A Substância, protagonizado por Demi Moore e Margaret Qualley. O longa traz uma história bizarra para criticar a pressão estética e o etarismo em Hollywood – mas também na sociedade em geral. 

Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2024, o longa mostra a ex-estrela de cinema Elisabeth Sparkle (interpretada por Demi Moore) trabalhando como apresentadora de um programa fitness na TV após ser deixada de lado por Hollywood.

Quando a emissora procura uma modelo mais jovem para substituí-la, ela se vê sozinha e sem perspectiva de retomar o sucesso que tinha na juventude. É nesse momento que surge a oportunidade de tomar ‘A Substância’, um composto que permite alguém criar uma versão melhor de si mesmo.

Ao tomar o composto, nasce Sue (Margaret Qualley), a versão ‘melhorada’ de Elisabeth – mais jovem, livre de estrias, rugas e fios brancos. A partir daí o filme segue por um caminho frenético e, claro, cheio de reflexões sobre o assunto

Recepção do público

Assim que foi lançado, os críticos começaram a se dividir, com alguns (como David Ehrlich, do IndieWire) apontando A Substância como “uma obra-prima de horror corporal épica”, enquanto outros acusaram o filme de, ironicamente, bajular o olhar masculino, fazendo o corpo feminino mais velho parecer “assustador”.

No Brasil, o filme foi ganhando reconhecimento aos poucos. Enquanto a estreia aconteceu em setembro, foi só no fim de outubro que as discussões sobre o longa ficaram mais afloradas nas redes sociais – coincidindo estrategicamente com as comemorações de Halloween, com vários fãs aproveitando para se fantasiar de Sue/Elisabeth.

Filme levanta reflexões

Além da inspiração para o Dia das Bruxas, o filme também incentivou vários memes nas redes sociais: muitos usuários afirmando que tomariam o composto da vida real. Os chamados edits (vídeos feitos por fãs destacando cenas de um personagem) de Sue também tomaram conta do TikTok nos últimos dias.

“Isso [movimento de enaltecimento da substância] só reforça o que o filme quis criticar”, comentou uma usuária em um dos memes sobre o longa na rede social.

Outros refletiram sobre o reflexo do filme na vida real. “Acabei de ver A Substância e só lembrei dessas meninas que ficam se comparando com influencers cheias de filtro e plástica na internet kkkkk”.

Nesse sentido, apesar de contar com um cenário hollywoodiano para fazer sua crítica, A Substância levantou discussões nas redes sociais sobre a influência destas plataformas na constante comparação com o outro e, claro, na pressão estética – principalmente entre jovens.

Para a psicóloga e professa da Universidade Paulista (UNIP) Ana Catarina Araújo, apesar das redes sociais funcionarem como uma importante ferramenta de conexão e aprendizado, atualmente também pode ser um terreno fértil para a disseminação de padrões de beleza irrealistas.

“Estas plataformas fazem parte da atualidade e do cotidiano da população, então é necessário aprender a lidar com elas de uma forma construtiva, observando o conteúdo com uma leitura mais crítica.”

Inclusive, provando que muita gente acredita em padrões irrealistas (seja nas redes sociais ou na telona), a notícia de que a atriz Margaret Qualley usou próteses (além de muita edição na pós-produção) para incorporar o corpo perfeito da Sue foi outro motivo de repercussão.

Terror da vida real

Dialogando diretamente com a sociedade contemporânea, o filme faz uma crítica contundente aos procedimentos estéticos cada vez mais excessivos e questionáveis – principalmente as pressões constantes que mulheres, em particular, sofrem para atender padrões de beleza inalcançáveis.

Fazendo uma crítica antiga, mas que continua cada vez mais atual, A Substância deve continuar dando o que falar nas próximas semanas – e, inclusive, pelos próximos anos, já que tem tudo para virar um cult moderno.

A Substância já está disponível no Mubi.

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