Que fim levou o Tamagotchi, bichinho virtual que foi febre na década de 90?

Brincar, alimentar com alguma frequência, limpar as necessidades, dar remédio quando necessário e acompanhar o crescimento com atenção e curiosidade — tudo isso enquanto leva ele em seus passeios. Essa parece a rotina de uma pessoa com um pet, mas é também o dia a dia de fãs de Tamagotchis.

Chamados de “bichinhos virtuais” no Brasil, esses mini-games em formato de chaveiro lançados originalmente no Japão foram um sucesso absoluto décadas atrás. Além de um número impressionante de vendas, eles eram viciantes a ponto de preocupar pais e professores.

Mas será que um aparelho tão simples conseguiu sobreviver à era dos smartphones, consoles ou PCs cada vez mais poderosos? A história desse produto é curiosa, já que prova que a expressão “menos é mais” pode valer também para um mercado marcado por avanços como é a tecnologia.

O fenômeno Tamagotchi

Um Tamagotchi é um brinquedo portátil virtual com um único modo de jogo. Você acompanha o crescimento de uma criatura virtual que começa como um ovo e vai até a fase adulta, realizando tarefas cotidianas diárias e criando uma conexão com o personagem.

A ideia original é de Akihiro Yokoi, executivo presidente da empresa de brinquedos Wiz. Ele contatou a Bandai, gigante japonesa famosa no mercado infantil, e teve o projeto aprovado para um lançamento em conjunto.

Aki Maita, uma das principais designers da equipe do Tamagotchi original. (Imagem: Bandai/Reprodução)

O nome é uma mistura das palavras em japonês tamago (ovo) e uotchi (relógio), criado quando o design do brinquedo ainda envolvia uma pulseira. Esse elemento mudou para um chaveiro e foi essencial para o seu sucesso: as crianças poderiam levar o seu bichinho virtual para qualquer lugar, sem perder ele de vista e atendendo quando necessário.

Após um certo tempo e atingir a fase adulta, quando muda de forma para um animal aleatório, o Tamagotchi morre — seja por falta de cuidado ou por simplesmente chegar ao fim da sua existência programada. Nos Estados Unidos, isso foi mudado para “retorna ao seu planeta natal“, amenizando o sentimento de perda. Quando isso acontece, basta resetá-lo para reiniciar a criação de um novo bichinho.

O dispositivo foi recebido inicialmente com ceticismo por parte de donos de lojas, que não ficaram tão interessados em encomendar estoques.

Com uma pequena tela monocromática, apenas três botões físicos para navegar por menus e uma proposta bastante básica, ele talvez não conquistasse um público que começava a entrar em contato com a internet e já poderia ter um PlayStation em casa.

O Tamagotchi: três botões e menus baseados em ícones simples.
O Tamagotchi: três botões e menus baseados em ícones simples. (Imagem: Bandai/Reprodução)

Na verdade, o lançamento foi um sucesso absoluto e o Tamagotchi virou um fenômeno global, em especial entre meninas japonesas. Em novembro de 1996, quando saiu no Japão, foram 5 milhões de unidades comercializadas em menos de seis meses. Nos Estados Unidos, quando chegou no ano seguinte, o estoque das lojas não conseguia atender a demanda do público.

Evoluir (só um pouco) para sobreviver

O grande trunfo do Tamagotchi era a criação deu um sentimento de conexão. Ao “apitar” ao longo do dia e exigir cuidados, o bichinho virtual estabelece uma relação de responsabilidade com o usuário, que se apega ao personagem.

Isso pode evoluir para vício e dependência: pais ficaram preocupados com o sentimento de luto quando um bichinho completava seu ciclo e passava para outro plano. Além disso, professores se irritavam com o uso dos aparelhos em sala, já que o cuidado frequente era uma regra inquebrável no mini-game.

A embalagem do Tamagotchi original.
A embalagem do Tamagotchi original. (Imagem: Etsy/Divulgação)

Ao longo dos anos, Wiz e Bandai seguiram lançando novas gerações do Tamagotchi, sempre respeitando o formato portátil e os menus simples.

Algumas das evoluções mais notáveis incluem a Connection, de 2004, que tinha um recurso de comunicação por infravermelho. Com ele, era possível ajudar amigos, trocar presentes e até fazer amizade com outros bichinhos virtuais compatíveis. Foi outro sucesso de vendas, mantendo a linha viva para um novo público.

Em 2013, ele ganhou uma versão totalmente digital com um app para Android. Três anos depois, no aniversário de 20 anos do brinquedo, o “Original Tamagotchi” foi relançado com um visual externo moderno, mas o mesmo formato de funcionamento por dentro. Também virou um fenômeno.

Um dos lançamentos mais recentes é o Uni, de 2023, um Tamagotchi com Wi-Fi integrado. Ao longo dessas gerações, o brinquedo foi ganhando novas funções, recursos mais complexos e até mais traços de personalidade. O núcleo do seu funcionamento, porém, seguia o mais simples possível.

Ainda existe Tamagotchi?

Apesar de hoje não ter a mesma popularidade do seu auge no fim da década de 1990, o Tamagotchi segue existindo de várias formas.

De acordo com dados oficiais, cerca de 91 milhões de unidades do Tamagotchi foram vendidas em todo o mundo de 1996 até o começo do ano passado. A hoje Bandai Namco não revela números exatos, mas conta que a comercialização dobrou entre 2022 e 2023.

Lançamentos de novos modelos continuam, mas o que mais mantém a comunidade unida é a nostalgia. Comunidades em fóruns e redes sociais reúnem pessoas de todas as idades, que são colecionadoras de Tamagotchis de diversas gerações e cores e compartilham o acervo com seus pares.

Uma coleção de Tamagotchis exibida em fóruns de fãs.
Uma coleção de Tamagotchis exibida em fóruns de fãs. (Imagem: Reddit//Artistic_Strike5088)

Assim como o retorno de franquias adormecidas, sequências de filmes de décadas anteriores e outros relançamentos de produtos, o Tamagotchi se aproveita das boas memórias que deixou para se manter vivo e adorado mesmo em uma era marcada por eletrônicos bem mais complexos e avançados.

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