Após descobrir, no início deste ano, um enorme oceano subterrâneo escondido sob a concha gelada da pequena lua de Saturno, Mimas, uma equipe internacional liderada por pesquisadores do Observatório de Paris realizou um novo estudo, desta vez para revelar como esse depósito de água líquida se formou.
A nova pesquisa, publicada recentemente na Earth and Planetary Science Letters, afirma que a lua com raio de pouco menos que 200 quilômetros pode ter desenvolvido um considerável oceano subterrâneo à medida que sua excentricidade orbital diminuiu, de uma forma mais alongada para uma mais circular.
A maior proximidade com Saturno, causada pela atração planetária, pode ter causado o derretimento e estreitamento da concha gelada da lua. Em um release, o cientista sênior do Instituto de Ciência Planetária, Matthew E. Walker, coautor do trabalho atual, afirma: “Acreditamos que o aquecimento das marés é a fonte de calor responsável pelo afinamento da casca”.
Como a “Estrela da Morte” de Saturno adquiriu seu oceano?
Cratera Herschel em Mimas.Fonte: Alyssa Rosa Rhoden et al.
Walker explica que essa energia gerada pelo aquecimento das marés não é criada do nada: ela é tirada do movimento orbital da lua e acaba se esgotando. Isso porque, à medida que o calor das marés vai derretendo a crosta de gelo, parte da energia usada no processo vai sendo retirada da órbita da lua, ou seja, ela perde energia conforme seu interior se aquece.
Essa perda de energia orbital faz com que a excentricidade do pequeno satélite orbital diminua até chegar a zero, quando então a órbita lunar se tornará perfeitamente circular. Quando isso ocorre, as forças das marés já não conseguem mais gerar calor suficiente, e o aquecimento tende a cessar completamente.
No caso específico de Mimas, o derretimento deve ter começado quando seu distanciamento ainda era de duas a três vezes maior que a atual. Conforme o comunicado, a análise da evolução da geologia da superfície lunar indica que a diminuição da espessura da camada de gelo tem diminuído nos últimos 10 milhões de anos.
Lua Mimas pode ter começado a derreter há 25 milhões de anos
Ilustração da redução da camada de gelo e da excentricidade de Mimas.Fonte: Alyssa Rosa Rhoden et al.
Chamada popularmente de “Estrela da Morte” devido à cratera Herschel, que confere à lua uma aparência semelhante à icônica estação espacial militar do Império Galáctico do filme Guerra nas Estrelas, Mimas tem hoje uma espessura estimada em 70 quilômetros na sua hidrosfera externa composta de gelo e líquido.
“Podemos estar vendo Mimas em um momento particularmente interessante”, afirma Walker. Para combinar com a atual excentricidade e à largura da espessura da camada de gelo, o processo todo deve ter começado, no máximo, há 25 milhões de anos. Isso significa que a lua esteve completamente congelada entre 10 a 25 milhões atrás, quando começou a derreter por um processo que continua sendo investigado, diz Walker.