Um estudo recente revelou que o manto terrestre, a camada interna do nosso planeta situada entre a crosta externa e o núcleo externo de materiais derretidos, tem uma divisão ou “cisma” que coincide com o Anel de Fogo do Pacífico, uma região com forma de um arco de 40 mil km em torno do oceano, que abriga 75% dos vulcões ativos na Terra.
Segundo a pesquisa, publicada na Nature Geoscience, a divisão criou dois domínios. O primeiro, chamado de domínio africano vai desde a costa leste da Ásia e Austrália, passa pela Europa, África e Atlântico, e vai até a costa oeste da América do Norte. A outra seção, chamada de domínio do Pacífico, cobre a região do oceano, que tem menos diversidade química (isótopos) do que o outro domínio.
O primeiro autor do artigo, Luc Doucet, pesquisador da Universidade Curtin, na Austrália, afirmou à Live Science que esse antigo “cisma” reflete os dois últimos ciclos de supercontinente. “O que observamos hoje é basicamente o que aconteceu durante a transição de Rodínia [formado há 1,2 bilhão de anos e fragmentado há 750 milhões de anos] para a Pangeia, e depois a separação da Pangeia”, ocorrida há 200 milhões de anos.
Confirmando a divisão do manto da Terra em dois domínios
O processo que levou à divisão do manto envolveu a subducção, um fenômeno que envolve fricção entre placas tectônicas, no qual a crosta oceânica desliza sob os continentes, enquanto um supercontinente se forma. O movimento afundou rochas continentais e seus elementos no manto, criando uma espécie de funil que “concentrou tudo abaixo do supercontinente”, explicou Doucet.
Para testar a hipótese da manutenção desse efeito de funil, mesmo depois que Pangeia se separou, os autores analisaram 3.983 amostras de dorsais meso-oceânicas (cadeias montanhosas submarinas) nas quais o magma do manto raso está escorrendo e endurece em forma de rocha vulcânica, ou basalto.
Os pesquisadores então usaram o aprendizado de máquina para comparar as composições elementares e isotópicas de basaltos de todo o mundo nos mesmos períodos. A análise confirmou a divisão entre os domínios africano e do Pacífico, tanto no manto profundo quanto no raso.
Descoberta melhora a compreensão do manto da Terra e sua superfície
Estrutura do manto global, mostrando velocidades mais baixas para as ondas sísmicas.Fonte: Doucet & Li, Nature GEoxcience, 2024
Para Doucet, a descoberta atual tem importantes implicações para uma melhor compreensão dos processos que conectam o manto e a superfície terrestre.
Os pesquisadores também descobriram duas “bolhas de baixa velocidade sísmica” (LLSVPs), estruturas volumosas abaixo de cada um dos domínios, que podem estar relacionadas à separação dos supercontinentes.
Como a Terra é o único planeta conhecido com placas tectônicas, “queremos entender como esse sistema único funciona e por que ele é tão especial”, conclui Doucet.
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