Iniciada há cerca de uma década, a franquia Life is Strange conquistou uma legião de fãs com seu gameplay focado em narrativa e escolhas. Os dilemas apresentados durante a jornada de Max, a protagonista do primeiro título da série, ficaram marcados na mente de muitos jogadores, além de criadores de conteúdo e todo o seu público. O impacto desse jogo foi tão notável que diversos ícones da internet brasileira, como Alanzoka e BRKSEdu, foram as lágrimas encarando o desfecho dessa jornada.
Produzido pela empresa francesa Don’t Nod, Life is Strange 1 acompanhava a jovem fotógrafa Max, que descobre ter poderes de voltar no tempo. Sua história em Arcadia Bay, ao lado de Chloe, foi oficialmente concluída de maneira emocionante no primeiro game, mas acabou continuando em uma série de quadrinhos não canônicos. Depois disso, a franquia também ganhou uma sequência com novos personagens e dois spin-offs, produzidos pelo estúdio Deck Nine.
Agora, a produtora desses spin-offs assume o desafiador papel de continuar a história do primeiro game depois de tanto tempo. Life is Strange Double Exposure traz Max novamente ao papel de protagonista, agora mais velha e com um novo poder: a habilidade de transitar entre diferentes realidades.
Max está de volta em jogo bonito, mas divisivo.
Como fã da franquia, fiquei animado em ver esse retorno desde seu anúncio. No entanto, depois de jogar e rejogar a noa aventura com Max, confesso que fiquei decepcionado com o trabalho feito pelo estúdio Deck Nine, e os motivos para isso são muitos.
Eu sou Mateus Mognon e eu te conto tudo sobre Life is Strange Double Exposure na review completa do Voxel. E detalhe: tudo sem spoilers da história!
Life is Strange Double Exposure traz boa proposta, mas pode decepcionar logo de cara
Life is Strange Double Exposure chega, logo de cara, com uma missão bem desafiadora. O game simplesmente continua um dos finais mais lembrados dos games da última década. O jogo acompanha a vida de Max cerca de 10 anos após os acontecimentos de Arcadia Bay. Agora, sem usar seus poderes de voltar no tempo, ela trabalha como fotógrafa residente na Universidade de Caledon.
As coisas saem do comum quando sua nova amiga, Safi, é assassinada. Na mesma noite, Max também descobre que agora tem o poder de transitar entre duas dimensões, com a amiga viva ou morta. Nesse contexto nada comum, ela resolve usar sua nova habilidade para tentar descobrir quem cometeu o crime e evitar que Safi seja morta mais uma vez.
Assim como anunciado pela Square Enix em todo o material de divulgação do jogo, a proposta inicial de Double Exposure lembra um pouco as séries de True Crime, com investigações e a caçada pelo assassino de Safi. Essa ideia, que é apresentada muito bem nos dois primeiros episódios, pode fisgar os jogadores ao mostrar Max em um novo cenário, com novos desafios.
No entanto, logo em seus primeiros minutos, o título pode decepcionar grande parte da fanbase do jogo original por causa de um detalhe: o tratamento da personagem Chloe. Independente de como você terminou o game original da franquia, a menina do cabelo azul tem uma participação mínima em Double Exposure, o que pode desagradar muitos jogadores.
Durante todos os cinco capítulos de Double Exposure, a Square Enix deixa claro que está querendo seguir em frente com Max sendo a grande protagonista da franquia. Inicialmente, ver a personagem nesse papel, com mais aprofundamento e rodeada de novos desafios, é bem legal.
Porém, a história de Double Exposure anda por caminhos que claramente não são os melhores para ninguém, nem mesmo para Max. Eu explico melhor a seguir.
História de Double Exposure tem ideias boas, mas execução questionável
Enquanto a ideia inicial de Double Exposure dava a entender que o jogo daria foco para o assassinato de Safi, o andamento da história está repleto de reviravoltas. Alguns desses plot twists, inclusive, são bem instigantes e podem deixar o jogador fisgado a ponto de não querer largar o game.
No entanto, as coisas acabam desandando no decorrer da narrativa, principalmente nos últimos episódios. A história acaba seguindo para um lado que foge da estrutura que tornava os jogos anteriores tão amáveis e cheios de emoção. Enquanto todos os outros Life is Strange tiveram algum momento que me deu vontade de chorar ou me deixou em prantos, isso simplesmente não acontece em Double Exposure.
Enquanto os outros jogos da franquia tinham momentos cheios de emoção, isso não acontece em Double Exposure.
Até mesmo as decisões finais do game, como os desfechos de relacionamentos e escolhas importantes, acabam parecendo sem peso. E o pior mesmo acontece nos últimos minutos do gameplay: Double Exposure termina numa vibe de filme da Marvel, incluindo até mesmo uma cena pós-créditos e uma frase em tela preta dizendo que “tal personagem voltará.”
Enquanto isso, questões importantes sobre a narrativa do game acabam ficando sem respostas. E não são coisas como os mistérios que assolavam Arcadia Bay no primeiro Life is Strange, como as baleias na praia e as duas luas. O jogo simplesmente ignora coisas lógicas envolvendo os poderes de Max, o destino de outros personagens e os desdobramentos de tudo que ocorreu em Caledon.
Double Exposure mostra um novo caminho que a franquia Life is Strange deve seguir, e ele não deve agradar todo mundo.
No fim das contas, fiquei com a sensação de que a história é basicamente uma fanfic criada na mesa de executivos, visando transformar Max no “Homem de Ferro” de uma franquia de jogos de super-heróis no estilo Marvel. Para isso acontecer, no entanto, o jogo deixou de lado os momentos emocionantes e o apego aos personagens, fazendo toda a história ficar sem profundidade.
Quando o assunto é narrativa, Double Exposure mostra que a Square Enix e a Deck Nine basicamente pegaram todos os sinais errados do que faz a franquia ser tão popular e amada pelos fãs. Enquanto o peso das escolhas e personagens desenvolvidos fizeram muita gente aguardar por mais jogos da série, Double Exposure chega apostando numa abordagem mais básica e que pode decepcionar jogadores mais aficionados por narrativa.
Gráficos decentes, mas com eventuais problemas
Enquanto a história do novo Life is Strange me decepcionou, o gameplay e seu visual não deixaram a desejar e estão dentro do esperado. A franquia é conhecida por sua jogabilidade mais parada e gráficos que não arriscam muito no realismo, e é exatamente isso que Double Exposure entrega.
Os 10 anos de novas tecnologias na Unreal Engine fizeram muito bem para Max Caufield, que está belíssima em sua nova versão. Além dos rostos bem definidos, temos uma sincronia labial sem erros e expressões faciais bem feitas, o que é importantíssimo para um jogo que deveria estar repleto de momentos emocionantes.
Os gráficos de ambientes também são decentes, mas sem trazer resultados extraordinários. No PC, o jogo entrega visuais bem feitos enquanto Max caminha pela Universidade de Caledon e interage com outros personagens. No entanto, durante o gameplay, acabei sofrendo com alguns engasgos e eventuais problemas em texturas, mesmo jogando numa RTX 4070.
Apesar de eventuais problemas, os gráficos de Life is Strange Double Exposure estão dentro do esperado.
Eu também testei o game no Steam Deck e o resultado foi bem satisfatório. Os visuais ficam muito bons no portátil, e como é possível alterar o tamanho das legendas, fica bem tranquilo de jogar na telinha do dispositivo.
Falando em legendas, Double Exposure conta com localização em português brasileiro, mas sem dublagem no nosso idioma. Felizmente, o trabalho de voz e de áudio no game é muito bem feito, com a trilha sonora seguindo os padrões dos jogos anteriores da franquia. Infelizmente não temos nenhuma música que realmente “gruda” na cabeça ou gera traumas, como Spanish Sahara, mas alguns hits com certeza podem ganhar espaço na playlist dos fãs.
Gameplay divertido, mas sem peso
Na parte do gameplay, Life is Strange Double Exposure não foge da fórmula da série: você basicamente caminha, faz escolhas e resolve situações usando o poder da Max. A movimentação e o game design deixam tudo bem fácil de ser entendido, e a viagem entre realidades garante momentos interessantes durante a jornada da protagonista.
Você pode ficar indo e voltando entre as linhas do tempo em que Safi está viva ou morta, coletando informações para interagir com personagens ou resolver problemas. Além disso, também é possível usar uma espécie de radar para misturar as realidades com esse mesmo propósito de investigação.
Com exceção de um momento em que Max enfia uma escada na mochila pra viajar entre realidades, o restante do gameplay com essa mecânica é bem divertido e não tem grandes furos de usabilidade, apenas na história e narrativa.
A jogabilidade e os cenários também estão repletos de referências e pensamentos da Max, o que incentiva explorar cada canto dos lugares e também seu smartphone. Vale destacar, também, que agora podemos escolher entre diferentes roupas para Max, tirar fotos com a Polaroid da protagonista em alguns momentos do gameplay, além de encontrar fotos espalhadas por aí. Um toque sutil, mas que garante uma boa referência ao jogo original.
A parte das escolhas, no entanto, acaba deixando a desejar em Life is Strange Double Exposure. Como já comentei antes, a história do novo Life is Strange acaba não contanto com muitos momentos de peso durante seus atos finais, o que deixa uma sensação de vazio em muitas decisões.
Apesar de o jogo original da franquia ter dois finais muito distintos, Double Exposure não se aproveita muito no fator rejogabilidade. Eu zerei o game duas vezes, somando cerca de 12 horas de gameplay no total, e notei apenas algumas mudanças de referências em momentos-chave envolvendo Life is Strange 1.
As escolhas de Life is Strange Double Exposure não tem tanto peso no final da narrativa.
As escolhas decisivas de Double Exposure também envolvem, normalmente, o relacionamento de Max com outros personagens, e não a narrativa principal. No entanto, como alguns NPCs são bem desinteressantes, o jogador pode chegar ao final sem nem mesmo entender que algumas pessoas tinham um papel tão importante na jornada de Max.
Chega até dar uma tristeza lembrar dos tempos da Dontnod, que me fez chorar bastante com Life is Strange 1 e 2. Uma pena que isso pode nunca mais acontecer, já que a franquia claramente está caminhando para um lado mais voltado para super-poderes do que emoções.
Vale a pena?
Enquanto é muito bom ver Max de volta com belos gráficos e um gameplay decente, a narrativa de Life is Strange Double Exposure pode decepcionar tanto os fãs da Chloe quanto os amantes de uma boa história. O jogo define claramente um caminho que a Square Enix quer seguir com a franquia, e ele envolve mais superpoderes e menos histórias emocionantes.
Como fã da série desde seus primórdios, senti em diversos momentos que a essência da franquia foi deixada de lado para vender um novo formato de jogo. E esse formato, infelizmente, está mais próximo de um filme nos padrões da Marvel do que das histórias cativantes feitas nos games anteriores de Life is Strange.
Em alguns momentos, Life is Strange Double Exposure parece uma fanfic que ganhou um grande orçamento, mas o fanservice é deixado de lado para dar espaço a ideias que claramente vieram de uma mesa de executivos. Ignorando isso, temos um jogo divertido e que com toques de nostalgia, mas que infelizmente, pode se tornar esquecível bem rápido.
Nota do Voxel: 70
Pontos positivos
- Gráficos bonitos e que mostram evolução na franquia
- Gameplay funciona bem
- Referências ao jogo original
Pontos negativos
- Narrativa foge muito dos padrões da franquia
- Decisões que não possuem tanto peso
- Furos de narrativa
Life is Strange Double Exposure foi testado no PC com uma chave enviada pela Square Enix. Além do computador, o jogo também está disponível para PS5 e Xbox Series S/X.
O que você achou da review? Confira também outras análises feitas por mim, Mateus Mognon, aqui no Voxel!
Você é fã de Life is Strange? Compartilhe as suas opiniões sobre Double Exposure com a gente nas redes sociais e no YouTube do Voxel!