Anunciada como a mais ambiciosa expedição humana ao espaço, a NASA já está preparando uma viagem científica de ida e volta a Marte potencialmente em 2035. Os astronautas poderão passar cerca de 500 dias na superfície do planeta vermelho, sem contar os seis a sete meses para ir e voltar.
A missão não será apenas um marco histórico para a agência espacial americana, mas servirá também para revelar alguns segredos geológicos há muito enterrados no solo marciano. A presença humana oferecerá oportunidades únicas para investigar os eventos que deram origem aos maiores vulcões do Sistema Solar, como o imponente Monte Olimpo, com quase 22 quilômetros a partir da base, localizado na região marciana de Tharsis.
Em um artigo recente para a plataforma The Conversation, o professor Joel S. Levine, do Departamento de Ciências Aplicadas da Universidade William & Mary, nos EUA, explicou sua participação como copresidente do painel Grupo de Análise Científica de Exploração Humana de Marte, NASA, e as principais questões científicas abordadas para a missão.
Marte e Terra já foram “irmãos parecidos”
Marte e Terra têm 4,6 bilhões de anos e são originalmente muito parecidos.Fonte: Getty Images
Para Irvine, que é cientista atmosférico e ex-pesquisador da NASA, “Marte é um planeta intrigante do ponto de vista geológico e atmosférico”, e um dos motivos é ser o planeta mais parecido com a Terra em nosso sistema solar, formado, como nós, há cerca de 4,6 bilhões de anos.
Quando a vida se formou aqui, há 3,8 bilhões de anos, Marte não era o mundo vermelho e empoeirado que é hoje. Na época, tinha água líquida abundante em sua superfície, além de uma atmosfera mais densa. Essas condições nos levam a questionar sobre possibilidade de vida no passado, e até mesmo no presente, naquele planeta.
A situação hoje é totalmente diferente: a atmosfera marciana atual é muito menos densa que a da Terra e composta predominantemente pelo dióxido de carbono (CO2), enquanto a nossa tem apenas 0,04%, por enquanto. Além disso, a baixa gravidade faz com que partículas de poeira fiquem suspensas na atmosfera por longos períodos, o que lhe dá aquela cor de ferrugem característica.
Como humanos poderiam explorar a geologia de Marte?
Embora missões robóticas tenham revelado alguns detalhes sobre a superfície de Marte, muitas características geológicas ainda precisam ser investigadas, como as diferenças entre os hemisférios norte e sul do planeta. As chamadas planícies do norte, que representam um terço da superfície marciana são lisas e se situam entre 3,2 a 6,4 quilômetros abaixo em altitude.
Já os outros dois terços do planeta, conhecidos como planaltos do sul, mostram inúmeras crateras muito antigas, formadas por impactos de asteroides e meteoros, além de abrigarem os maiores vulcões já observados no Sistema Solar. Nesse contexto, uma missão tripulada a Marte poderia realizar algumas tarefas, como perfurações profundas ou análises geológicas complexas.
Segundo Irvine, entre as principais questões apresentadas no painel de planejamento da futura missão, está, em primeiro lugar, a existência de vida em Marte atualmente. A outra questão, relacionada à primeira, é: “Que tipo de mudanças ambientais levaram Marte a perder a água líquida abundante e generalizada em sua superfície, bem como parte de sua atmosfera?”.
A Lua como laboratório da missão a Marte
As missões Ártemis à Lua servirão para capacitar astronautas para a grande missão marciana.Fonte: Getty Images
Localizada a somente 386 mil quilômetros da Terra, a Lua irá funcionar como uma espécie de campo de treinamento para a futura expedição marciana. Nesse sentido, o programa Ártemis começará a capacitar, com bastante antecedência, os astronautas para uma exploração demorada do Planeta Vermelho.
Primeira missão a levar humanos de volta à superfície lunar, a Ártemis III está programada para 2026. A ideia é que os astronautas pousem no polo sul da Lua, onde podem existir grandes depósitos de água subterrânea congelada.
Para garantir uma permanência mais prolongada no nosso satélite natural, os astronautas poderiam minerar, derreter, purificar e consumir essa água. A missão prevê que os exploradores se estabeleçam em habitats artificiais na superfície da Lua, e lá permaneçam por vários meses em trabalhos de pesquisa.
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