Existe uma eterna discussão sobre se os SUVs podem ser chamados de esportivos ou não, afinal, costumam ser modelos grandes e pesados com um comportamento desengonçado. Acontece que toda regra tem sua exceção e nosso teste da vez é prova disso.
O TecMundo teve a oportunidade de passar alguns dias na companhia do atual Porsche Cayenne, o famigerado utilitário que resgatou a montadora alemã da falência no começo dos anos 2000 e é um sucesso absoluto. Testar um Cayenne já é interessante por si só, mas a versão cedida para nós foi a mais icônica e brutal de todos os tempos: a Turbo GT.
Nosso exemplar testado veio em Azul Algarve, uma cor que beira os 30 mil reais. Rodas em cinza fosco são opcionais.Fonte: Yuri Ravitz
Antes de começarmos nossa avaliação, porém, vale lembrar que o Cayenne está em sua terceira geração, apresentada ao mundo em 2017. No Brasil, o SUV alemão é comercializado desde abril do ano passado com o facelift introduzido para a linha 2023 na carroceria tradicional e na Coupé, inclusive com opções de motorização híbrida plug-in.
A variante Turbo GT nasceu em 2021 para ocupar o topo da cadeia do modelo e é puramente focada em alta performance. É oferecida somente na carroceria Coupé e custa R$1.410.000 pela tabela atual, valor que pode subir rapidamente conforme se adiciona opcionais ou as pinturas especiais do programa Paint-To-Sample que passam dos 80 mil reais.
Discos dianteiros de freio medem 410mm de diâmetro, pouco maiores que uma roda aro 16.Fonte: Yuri Ravitz
Na reestilização, o Cayenne ganhou novos para-choques, faróis com tecnologia Matrix de série, novas lanternas e um interior profundamente revisado. O “nosso” Turbo GT, além desses recursos, ganhou pneus ligeiramente mais altos em relação ao pré-facelift: eles medem 285/40 ZR22 na dianteira e 315/35 ZR22 na traseira – antes eram 285/35 e 315/30 respectivamente.
Por fim, o motor 4.0 V8 biturbo que equipa o Turbo GT ganhou 19cv de potência máxima, passando para até 659cv e o mesmo torque máximo de 86,7kgfm do pré-facelift. Com isso, ele vai de 0 a 100km/h em apenas 3,3 segundos e atinge 305km/h de velocidade máxima, posicionando-se como o Cayenne mais rápido e mais veloz de todos os tempos.
Painel, cluster de instrumentos e console central são algumas das principais novidades na cabine.Fonte: Yuri Ravitz
Por dentro há um novo cluster de instrumentos 100% digital inspirado no elétrico Taycan, um novo painel e acabamento com fartura de Alcantara (que a Porsche chama de Race-Tex). O que não ficou tão bom foi o novo console central com comandos touch para o ar condicionado: em certas posições, ele reflete a luz do sol totalmente no rosto do motorista, sem cerimônia.
No pacote tecnológico há itens como: bancos dianteiros e volante com ajustes elétricos, câmeras e sensores de estacionamento em 360º, ar com quatro zonas de temperatura, ventilação e posição, retrovisores fotocrômicos (incluindo os externos), todos os recursos ADAS existentes, aerofólio traseiro ativo, entre inúmeros outros.
O caimento de coupé não interferiu significativamente no espaço para a cabeça dos ocupantes traseiros.Fonte: Yuri Ravitz
O Cayenne Turbo GT é um carro especial e deixa isso claro na comparação com as outras versões. Todos os recursos de performance opcionais nas demais variantes são de série nele como o eixo traseiro direcional, os freios em carbono-cerâmica e o escape esportivo em titânio. A suspensão a ar é adaptativa e pode ser ajustada tanto em altura quanto em rigidez.
Além disso, o teto do Turbo GT vem somente em fibra de carbono assim como as capas dos retrovisores e apliques dos aerofólios traseiros. Pesando 2.245kg, são consideráveis 350kg a menos do que o Turbo E-Hybrid que, embora entregue mais potência e torque máximos, é mais lento no 0 a 100km/h e não tem a mesma excelência dinâmica do Turbo GT.
Cockpit veste o motorista muito bem. Há saídas de ar até no topo do painel central.Fonte: Yuri Ravitz
Ao volante, o Cayenne Turbo GT impressiona pela suavidade e precisão da direção, podendo quase se passar por um carro “normal” se não fosse o ronco onipresente (e delicioso) do V8 borbulhando sem qualquer auxílio de eletrificação, algo cada vez mais raro hoje em dia. Basta um comando para o escape abrir as válvulas internas e deixar o motor rugir ainda mais alto.
A aceleração é insana e nos faz perguntar como um veículo tão grande (quase 5m de comprimento) e pesado consegue ganhar velocidade tão rápido. O controle de largada chega a dar um pouco de vertigem logo no começo do arranque, tamanha a violência com a qual os corpos são empurrados contra os bancos e o SUV dispara em frente como um míssil.
Debaixo do capô, todas as “entranhas” do V8 biturbo são ocultas por acabamentos plásticos.Fonte: Yuri Ravitz
De igual modo, o comportamento dinãmico é bizarro, pois o Cayenne Turbo GT faz curvas com uma rolagem de carroceria praticamente inexistente. É como se você estivesse em busca do limite do carro e não conseguisse encontrá-lo, pois não há nenhum. A vetorização de torque, o eixo traseiro direcional e a suspensão ativa são alguns dos responsáveis pelo espetáculo.
Porém, é claro que o Turbo GT não é dos mais macios que existem – e nem pode, pois se fosse, parte do dinamismo se perderia. Também não é econômico como os híbridos, embora nossa média ao final dos mais de 1.300km rodados tenha sido de surpreendentes 8,4km/l. Não é algo que um proprietário se preocuparia, mas vale ser mencionado pela curiosidade.
“Nosso” Cayenne Turbo GT de frente para a Paróquia Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema, RJ.Fonte: Yuri Ravitz
No final das contas, dirigir o Cayenne Turbo GT foi uma experiência que deixou claro haver vida além da eletrificação. Com cada vez mais marcas abandonando os motores de oito cilindros, a versão mais brutal do SUV alemão chega como um alento para os que buscam esportividade em um produto moderno e tecnológico com uma tocada raiz e emocionante.
Não é tão familiar quanto as demais versões e nem tão versátil quanto, mas é o mais próximo que o Cayenne chega de ter uma versão “de pista” como as GT2, GT3 e GT4 dos irmãos. Além disso, é uma homenagem mais do que merecida (e muito bem executada) a esse que foi o salvador da Porsche em seus tempos difíceis e ainda é um dos carros-chefe da empresa.