Começando a se exercitar? Fique ligado na indústria fitness

Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

É notável o aumento da popularização do exercício físico e o universo fitness e esportivo. Várias tribos têm se formado nesse movimento: praticantes de corrida, de musculação, de CrossFit, de Yoga, entre outras vertentes.

Tal movimento é impulsionado pelas redes sociais que podem nos enganar, pois achamos que o mundo está mais ativo fisicamente, quando, na verdade, segundo dados, os níveis de atividade física mundiais estão em declínio. Portanto, o que vemos é apenas um retrato do círculo social mais próximo.

Apesar disso, praticantes altamente motivados se engajam de forma profunda nas modalidades e ao desejarem melhor desempenho, buscam alternativas nos mais diversos âmbitos, como suplementação ou tecnologia.

Ao começar uma atividade física busque sempre a orientação de profissional de educação física e um nutricionista.Fonte:  Getty Images 

Praticantes iniciantes também podem ser vítimas desse fenômeno. Porém, muitos desses aspectos não apresentam comprovação científica de seus efeitos. Entenda cinco deles a seguir:

1. Suplementos alimentares

A indústria de suplementos alimentares está à frente da ciência. De fato, a maioria dos produtos cai nas mãos dos consumidores sem antes ter sido testada cientificamente. Quando não fazem mal à saúde, provavelmente também não tem efeitos – o caso da maioria dos suplementos alimentares disponíveis no mercado.

Conseguimos contar os suplementos que possuem comprovação científica de seus efeitos, com os dedos das mãos, mas de apenas uma delas: creatina (como fornecedor de energia intramuscular), cafeína (estimulante), bicarbonato de sódio e beta-alanina (tamponantes ácidos) e o nitrato (vasodilatador).

Alice Erwig – nutricionista e pesquisadora do Applied Physiology Group, na USP, destaca que “se apenas cinco dos mais de 400 mil tipos de suplementos possuem eficácia, todos os outros (que são constantemente testados) não possuem eficácia ou não possuem diferença significativa em relação a quem não consome, parece que não adianta gastar dinheiro à toa.”

2. Melhor tipo de tênis para corrida

É chegar em uma loja de tênis para o vendedor te oferecer o melhor tipo de tênis para alguma coisa: prevenção de lesões, desempenho, tipo de pisada, entre outras. Porém, tal abordagem não é suportada por evidências científicas, e sim por interesses comerciais. Segundo a ciência, o conforto deve ser o principal aspecto para escolha do tênis para correr.

O "melhor" tênis para corrida é mais simples do que parece.O “melhor” tênis para corrida é mais simples do que parece.Fonte:  Getty Images 

3. Acessórios e dispositivos vestíveis

A tendência fitness número 1 do mundo não deixa, a desejar na variedade de produtos, desde os tradicionais relógios e pulseiras, chegando mais recentemente aos anéis e até colares fitness.

São inúmeros dados fornecidos pelos equipamentos e alguns podem ser úteis. Mas, em geral, somos vítimas da indústria explorando dispositivos e equipamentos que nos distanciam do fato de que qualquer movimento é melhor do que nada.

Smartwatches são tecnologias vestíveis, mas não obrigatórias para praticar exercícios.Smartwatches são tecnologias vestíveis, mas não obrigatórias para praticar exercícios.Fonte:  Getty Images 

4. Equipamentos para treino

A indústria fitness faz com que acessórios virem pré-requisitos, ou seja, equipamentos que seriam auxiliares e optativos viram quase mandatórios para um bom treino, aspecto que não é real e complica algo que já é difícil: se exercitar.

Ao passar por mais de 50 academias, notei que muitos praticantes carregam até mochilas ou malas durante o treino, lotadas de acessórios para cada exercício: straps para treinar costas, suporte de cotovelo e punho para treinar peito, faixas elásticas de joelho para treinar pernas, cinturão para diversos exercícios e entre outros equipamentos.

Bastante motivados pelo uso dos acessórios pelos influencers fitness e em alguns casos específicos, tais equipamentos são de alguma utilidade, mas se perde a essência de utilizar apenas o próprio corpo para se exercitar.

5. A indústria dos influencers fitness

É notável que vivemos a Era do Fitness, conforme apontam especialistas. Nunca se falou tanto de exercícios físicos, por tanta gente. Entretanto, a maioria das informações divulgadas parece não ter a ciência como fonte de informação.

Nesse sentido, os divulgadores e os consumidores de dicas fitness são vítimas de vieses cognitivos, como o efeito Halo – quando julgamos com base em estereótipos. A publicidade se aproveita desse viés quando coloca atletas e autoridades fitness para propaganda de produtos como suplementos.

Em geral, a indústria do fitness vai tentar te enganar para acreditar que precisa de algo a mais do que exercícios regulares, nutrição adequada e sono de qualidade. O resto é apenas barulho que complica ainda mais algo que já tem sido difícil: se mover, comer e dormir bem. Árduas tarefas atualmente, mas que são o caminho para viver melhor e, portanto, viver mais.

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Fábio Dominski 
é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz 
divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.

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