Os entusiastas de RPGs japoneses têm muitos motivos para celebrar este ano, e tudo indica que o maior dos atrativos ainda está por vir. É esta a impressão que Metaphor: ReFantazio, da Atlus, deixa a cada novo vislumbre de informação e demonstração jogável. O título é a razão pela qual o Studio Zero foi fundado em 2016: estabelecer uma nova propriedade intelectual, ambientada em um mundo de fantasia, com a liderança de alguns dos nomes mais renomados por consolidar as séries Persona e Shin Megami Tensei.
A convite da assessoria de imprensa da Atlus, o Voxel foi um dos veículos brasileiros que tiveram a oportunidade de conversar, com exclusividade, com Katsura Hashino, diretor dos últimos jogos numerados de Persona e que agora reprisa seu cargo em Metaphor: ReFantazio, para entender mais sobre o lançamento. Vale lembrar que o game chega oficialmente em 11 de outubro para PC (Steam), PS4, PS5 e Xbox Series — com localização em português do Brasil.
Um familiar mundo novo
Com quase três décadas de experiência na indústria de jogos, Hashino-san possui um currículo que fala por si só. Ele esteve por trás da direção de jogos cultuados como Persona 3, Persona 4 e Persona 5, que, vez após vez, foram responsáveis por posicionar a franquia como uma referência no gênero de RPG no mundo todo.
Deixar essa zona de conforto para apostar no ineditismo é algo que pode trazer uma mistura de sentimentos aos fãs. No entanto, com Metaphor: ReFantazio, os desenvolvedores desejam se conectar ao público de uma maneira diferente: deixando de lado o cenário moderno, com foco na vida colegial japonesa, e entregando um novo tipo de mundo para explorar.
“É uma forma grosseira de resumir, mas fantasia, enquanto um gênero, normalmente se dá pela fuga da realidade. Aqui, nós quisemos criar uma forma de fugir da realidade e imergir nesse mundo de fantasia, mas então encontrar algo ali que você possa trazer de volta para a vida real e ter significância para você,” explica o diretor.
Fonte: Divulgação/Atlus
A história se passa no Reino Unido de Euchronia, que está mergulhado em caos e desespero com o assassinato do rei. Com o trono abandonado e sem herdeiros, pois o príncipe foi acometido por uma maldição, uma Magia Real entra em vigor e dá início a um “torneio eleitoral” do qual o protagonista, chamado apenas de Garoto Viajante, resolve participar para libertar o seu amigo de infância.
Por isso, fortalecer os laços e relações do personagem é algo fundamental ao longo da jornada. Isso pode soar bastante familiar aos fãs de Persona e, pelo andamento da conversa, não é uma mera coincidência.
“O relacionamento entre os personagens se dá de forma muito similar aos sistemas de vínculos que introduzimos nos jogos de Persona. Em Metaphor, a diferença está no fato de que seu personagem busca ser o soberano de uma nação. Há um tipo de magia eleitoral em andamento e, para alcançar seu objetivo, você precisa viajar e reunir apoio,” diz Hashino-san.
“[As relações] são muito mais focadas nessa ideia de visitar muitos lugares na sua jornada, conhecer pessoas e aprofundar seus laços para que, em algum momento, essas pessoas possam dar suporte a você,” acrescenta.
Metaphor: ReFantazio terá mais de um final?
Toda essa premissa de viagem por uma nação, a importância dos laços entre os personagens que encontramos pelo caminho e até mesmo escolhas, que aparecem durante os diálogos, podem levar a uma dúvida recorrente: existe a possibilidade de Metaphor: ReFantazio ter mais de um final?
De acordo com Hashino-san, essa não é a intenção. “Nós consideramos cuidadosamente nossa abordagem do final. Percebemos que, para contar a história que nós queríamos neste novo mundo, apenas um final seria o ideal. Mas espero que todos joguem o game inteiro para descobrir o que ele tem a oferecer,” disse o diretor.
Ao longo da conversa, Hashino-san também garantiu que o jogo foi produzido para que os jogadores possam se sentir como eles mesmos ao longo da jornada. “Não queremos que este seja um RPG em que você joga como um outro indivíduo e, então, passa a experienciar o mundo apenas sob a ótica dele. Queremos que seja um tipo de jogo em que os jogadores possam ser eles mesmos,” comentou.
“É um jogo de fantasia, explorando um mundo inédito, e há muito valor nisso. Colocamos muito conteúdo interessante, então realmente esperamos que os jogadores possam aproveitar e dizer: ‘eu sempre quis jogar um título assim.’ É este o sentimento que queremos evocar do nosso público,” concluiu.
Os Arquétipos e decisões visuais e de gameplay
Um dos temas centrais de Metaphor: ReFantazio é o enfrentamento às próprias ansiedades, e parece que isso tem muito a ver com os poderes aos quais os personagens têm acesso durante a aventura. É nesse ponto que vêm os Arquétipos, que atuam como se fossem classes jogáveis. Pudemos escutar, de Hashino-san, um pouco das intenções por trás dessas “entidades” que, visualmente, lembram muito os Personas.
“Em Metaphor: ReFantazio, os Arquétipos são uma força interior. Um tipo de aspecto interno de cada personagem, como se fossem figuras heroicas e que estão presentes em cada um de nós. Em vez de emprestar esse poder de fora, como os demônios que invocamos em Shin Megami Tensei, é mais sobre despertar uma força que já reside em nosso interior. Então, nesse sentido, é um pouco diferente dos nossos últimos jogos,” explica o diretor.
Fonte: Divulgação/Atlus
Hashino-san até mesmo brincou e riu ao lembrar de um caso pessoal. Segundo ele, um amigo teria deslocado o braço e o grupo que o acompanhava, à ocasião, chamou uma ambulância às pressas. Mas como estavam todos ansiosos e desesperados, acabaram encontrando coragem para colocar o braço do colega de volta no lugar ali mesmo.
“Dessa experiência, quando acidentes acontecem ou estamos diante de situações extremas, há partes de nós que surgem e que não fazíamos ideia de que estavam conosco; coisas que nunca imaginávamos que poderíamos fazer,” compara.
Tradicionalmente, a Atlus também é bastante conhecida pelo visual dos seus jogos — em especial, a sua interface de usuário caprichada. A impressão inicial do público é de que o jogo pende para uma estética mais medieval. É verdade que esse foi um ponto de partida, mas Metaphor busca ser algo mais autoral.
Fonte: Divulgação/Atlus
“Por exemplo, a interface de usuário inicialmente tinha um aspecto mais medieval, com elementos mais metálicos e envelhecidos, que vemos muito em obras do gênero. Mas, no fim, queríamos algo mais único, um pouco mais estiloso — mas não tão pop quanto os jogos de Persona,” continua. “Há muita tentativa e erro nesse processo.”
Por fim, Hashino-san deu detalhes de como de como funciona a inusitada mistura de combate em tempo real e por turnos em Metaphor: ReFantazio.
“Nós quisemos criar um ritmo agradável na forma como o jogo se desenrola. Então, se você vir um inimigo que você enfrentou anteriormente e que não seria um problema, você pode limpá-lo do mapa. A intenção foi garantir que você pudesse manter o ritmo ao enfrentá-los de forma rápida, fácil e também divertida,” explica.
“Mas então, se você vir algo novo ou misterioso, sem ter a certeza do quão poderoso possa ser, você pode se aproximar no seu próprio ritmo e tomar o seu tempo para pensar a respeito. Com isso, buscamos preservar esses dois elementos do [sistema de] combate,” conclui.
Uma palavrinha ao público brasileiro
Para terminar a conversa, fugi um pouco do protocolo e desenrolei meu japonês para pedir ao Hashino-san uma mensagem ao público brasileiro que está ansioso pelo lançamento de Metaphor: ReFantazio. Esboçando uma alegre reação de surpresa pela pergunta em seu idioma nativo, ele respondeu:
“Sabemos o tanto que os nossos fãs do Brasil amam os nossos jogos e somos muito gratos por isso. Metaphor: ReFantazio reúne tudo o que aprendemos nos últimos anos de desenvolvimento e todas as coisas interessantes que já fizemos em nossos jogos, mas também adicionando novos desafios que só foram possíveis agora que abraçamos o gênero de fantasia,” explica.
“Por isso, esperamos que todos os brasileiros estejam empolgados e tenham a certeza de que Metaphor: ReFantazio é um RPG da Atlus [como vocês conhecem], mas com algumas coisas familiares e outras novas”, garantiu o diretor.
Metaphor: ReFantazio chega em 11 de outubro, com textos localizados em português do Brasil. Aqueles que quiserem ter um gostinho da aventura já podem baixar uma versão de demonstração bastante generosa, que promete até seis horas de jogatina e traz o prólogo da experiência.