Desde que teve seus primeiros materiais promocionais divulgados no início do ano, Longlegs virou um dos filmes mais aguardados pelos fãs de terror. Sem entregar muito no trailer e com diversas mensagens enigmáticas deixadas “pelo próprio” serial killer em outdoors pelos Estados Unidos, a produção foi prematuramente vendida como “a mais assustadora do ano”.
Bom, o ‘problema’ de uma divulgação nessas proporções é que essa artimanha pode se transformar em uma verdadeira armadilha.
Isso porque, quando altas expectativas são criadas, elas dificilmente são superadas.E provavelmente é que o vai acontecer com os mais ansiosos que forem aos cinemas assistir Longlegs.
Longlegs é o novo suspense psicológico da produtora Neon
No filme, acompanhamos a investigação do FBI para encontrar um serial killer (interpretado por Nicolas Cage) que nas últimas décadas matou várias famílias. O problema é que as cenas de crime não parecem ter sido invadidas, como se as vítimas simplesmente deixassem o assassino entrar.
As únicas pistas que o FBI tem são as cartas com mensagens indecifráveis deixadas pelo autodenominado Longlegs na casa das famílias.
É nessa investigação que conhecemos a personagem Lee Harker (Maika Monroe), policial designada para resolver o caso. À medida que o tempo passa e o caso se desenrola, novas perguntas sobre o seu passado nebuloso vêm à tona e, o pior, pistas de uma possível ligação com o assassino começam a surgir.
Independente do selo de mais assustador da década – o que eu particularmente acredito que passe longe –, o diretor Oz Perkins (que, a título de curiosidade é filho do ator Anthony Perkins, o Norman Bates de Psicose), tem nas mãos um thriller policial com toques de terror ao misturar toques de ocultismo.
Aqui, o terror não está propriamente na história em si, mas na ambientação criada pelo diretor, já que o filme te deixa propositalmente desconfortável 100% do tempo.
Falando em ambientação, Longlegs se passa nos anos 1990, e Perkings parece deixar bem claro quais foram suas principais inspirações para o longa.
Os dois primeiros atos se apoiam principalmente em fazer um grande tributo a O Silêncio dos Inocentes e Seven – Os Sete Pecados Capitais, ambos lançados no fim do século passado e considerados dois clássicos contemporâneos de investigação policial. É aí que o filme consegue construir uma atmosfera sufocante, assustadora e, ao mesmo tempo, contida.
Nicolas Cage interpreta o serial killer enigmático Longlegs
O problema é que, assim que a produção deixa os tributos aos clássicos de lado e parte para provar sua originalidade na terceira parte, a produção infelizmente vai perdendo o brilho.
Isso porque o desfecho parece seguir por um caminho totalmente diferente das duas primeiras partes, em uma conclusão bem morna e anticlimax, que provavelmente vai dividir bastante o público.
O maior ponto negativo é que a produção deixa de explorar o principal aspecto trabalhado na divulgação, o próprio Longlegs. Com um ótimo Nicolas Cage satânico (e cheio de prótese facial), o filme perdeu uma grande chance de entregar um serial killer memorável, tal qual aqueles vistos nos dois suspenses que o inspiraram.
Antes mesmo do terceiro ato chegar, o personagem já perde força e toda a expectativa criada em torno do vilão na divulgação é quebrada super-rápido, dando aquela frustração de esperar algo que nunca chega.
Bom, é o filme mais assustador que você vai assistir neste ano? Provavelmente não (a menos que seja o único filme de terror que você assista). Vale a pena conferir? Com certeza.
Apesar de seguir uma direção diferente daquela proposta na divulgação e pecar em algumas escolhas narrativas, Longlegs ainda consegue trazer um bom suspense policial, uma atmosfera tensa de ocultismo, boas doses de terror psicológico e até alguns jump scares para os fãs de sustos.
Com orçamento de 10 milhões de dólares, Longlegs teve a maior estreia da Neon nos Estados Unidos, com US$ 22.6 milhões. Internacionalmente, o longa ultrapassou a marca dos US$ 100 milhões na bilheteria.
Longlegs estreia em 29 de agosto nos cinemas brasileiros.