A ciência espacial é permeada por diferentes áreas, como astrofísica, astrobiologia, arqueoastronomia, geofísica planetária, astrogeologia, física solar, entre outras. Infelizmente, um dos campos mais interessantes da astronomia não é tão conhecido como deveria: a cosmoquímica, um estudo que pode nos ajudar a encontrar vida fora da Terra a partir de diferentes conceitos científicos.
Segundo os especialistas da área, a cosmoquímica possibilita que a ciência compreenda melhor os dados de diversos objetos espaciais, como planetas, satélites e estrelas. A partir disso, os cientistas podem utilizar as informações para tentar encontrar respostas sobre uma das questões primordiais da humanidade. Afinal, será que existe algum tipo de vida fora da Terra?
A palavra ‘cosmoquímica’ surgiu da junção de ‘cosmologia’ e ‘química’. Além de tentar descobrir sobre a possibilidade de vida fora da Terra, o estudo da área também pode responder como a Terra se formou e como os seres humanos se desenvolveram a partir de todos os elementos químicos que originaram o planeta.
“A cosmoquímica é o estudo das coisas espaciais, os materiais reais que constituem os planetas, estrelas, satélites, cometas e asteroides. Esse material pode assumir todas as formas de matéria: sólido, líquido, gasoso e plasma. A cosmoquímica é diferente da astronomia, que se preocupa principalmente com o estudo da luz que interage com essas coisas. Existem dois benefícios principais no estudo dos astromateriais reais: primeiro, os materiais registam as condições no momento e local onde se formaram, permitindo-nos olhar para o passado profundo; e segundo, as medições laboratoriais de materiais são extraordinariamente precisas e sensíveis, e continuam a melhorar à medida que a tecnologia melhora”, disse o professor de física, Dr. Ryan Ogliore, associado de física na Universidade de Washington (EUA), em mensagem ao site Universe Today.
Para você compreender um pouco mais sobre o que é a cosmoquímica e como ela pode nos ajudar a encontrar vida fora da Terra, reunimos informações de cientistas e especialistas da área.
O que é cosmoquímica?
Em poucas palavras, a cosmoquímica é o estudo da composição química da matéria do universo e de todos os processos que levaram a formação dessas composições. A maioria das observações realizadas pelos cientistas da área é em objetos encontrados no Sistema Solar; os meteoritos são uma das estruturas mais estudadas.
Grande parte dos meteoritos é formada por materiais tão antigos quanto o Sistema Solar, assim, oferecem informações importantes sobre a nebulosa solar inicial que deu origem ao sistema. Em objetos do tipo ainda mais antigos, os pesquisadores encontraram cerca de 0,1% de materiais pré-solares — ou seja, que se formaram antes mesmo de existir tudo o que está ao nosso redor.
Os métodos da cosmologia química comumente realizam análises laboratoriais de meteoritos e de outras amostras coletadas no espaço. O problema está justamente na coleta dessas amostras, pois não é uma tarefa fácil. Por exemplo, atualmente, apenas o Japão, os Estados Unidos, a China e a antiga União Soviética conseguiram criar programas espaciais que recolheram amostras.
A imagem apresenta fissuras no polo sul de Encélado, a lua de Saturno, onde a água é empurrada para o espaço por meio de estruturas semelhantes a gêiseres.Fonte: NASA / JPL / Space Science Institute
A partir da análise desses materiais, os cientistas podem compreender se compostos orgânicos primitivos da Terra foram entregues por esse tipo de objeto cósmico. O Dr. Oligore deixa claro que isso não significa que a vida na Terra, ou em outros lugares, começou dessa forma, mas que o estudo pode ajudar a encontrar respostas sobre essa e outras possibilidades — como a busca pela vida fora da Terra.
“Um dos principais benefícios da cosmoquímica é a capacidade de reproduzir medições. Posso medir algo no meu laboratório, e outra pessoa pode medir o mesmo objeto, ou um objeto muito semelhante, em outro laboratório para confirmar minhas medições. Somente após medições repetidas, por diferentes laboratórios e diferentes técnicas, uma determinada afirmação será universalmente aceita pela comunidade. Isto é difícil de fazer em astronomia, e também difícil usando medições de sensoriamento remoto em naves espaciais que estudam outros corpos no Sistema Solar”, o Dr. Ogliore acrescenta.
Cosmoquímica e o futuro da astrobiologia
Para uma detecção correta da existência de vida fora da Terra, os cosmoquímicos precisariam realizar medições laboratoriais com diferentes técnicas, a fim de garantir que os dados estejam completamente corretos. Segundo o Dr. Ogliore, essa seria a única forma de ter certeza de que existe vida em alguns dos lugares que os cientistas já suspeitam, como a lua Europa, de Júpiter, e a lua Encélado, de Saturno.
Assim como a cosmoquímica, a astrobiologia é um campo da ciência espacial que tenta responder a uma das questões mais primordiais do universo: existe vida fora da Terra? Os pesquisadores dessa área estudam processos planetários e estelares, combinando conhecimentos e técnicas da astronomia, geologia, biologia, química, oceanografia, entre outras áreas científicas.
A astrobiologia foi citada pela primeira vez em 1935, mas só passou a ser mais estudada a partir do final dos anos 1990. Apesar de ser um campo de estudo relativamente jovem, agências espaciais como a Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço dos Estados Unidos (NASA) e a Agência Espacial Europeia (ESA) planejam missões para buscar por possíveis sinais de vida no Sistema Solar e fora dele.
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