Another Crab's Treasure é como um Bob Esponja da FromSoftware – Review

Entre os inúmeros títulos inspirados no gênero soulslike, um dos mais influentes da indústria de videogames na atualidade, Another Crab’s Treasure definitivamente está no grupo dos que mais buscam uma abordagem autoral. Apesar de seguir à risca a cartilha desse formato masoquista de jogo, o game oferece uma experiência autêntica e bastante particular.

Se bem me lembro, não há outra obra que se proponha a ser alegre e colorida ao mesmo tempo que testa os limites do jogador com oponentes e chefes de arrancar os cabelos. A história, inclusive, é “contadinha”, bem-humorada e não guarda o melhor da lore para as descrições dos itens, tal como Dark Souls costuma fazer.

Desenvolvido pelo estúdio norte-americano Aggro Crab, Another Crab’s Treasure se porta como Dark Souls no combate, talvez até mais como Sekiro: Shadows Die Twice em alguns momentos. No entanto, tudo se apresenta como um desenho da Nickelodeon dos anos 2000.

Em síntese, é como se Hidetaka Miyazaki tivesse dirigido um episódio especial de Bob Esponja. Por mais peculiar que essa combinação seja, posso dizer: simplesmente funciona. Confira nossas impressões na review completa:

Um soulslike que faz jus ao rótulo

Nos últimos tempos, há quem diga que o termo soulslike acabou banalizado nas descrições dos RPGs de ação em terceira pessoa. Aos olhos de muita gente, ter uma trava de mira e abusar da elevada dificuldade já são motivos suficientes para rotular um jogo como tal.

Another Crab’s Treasure, no entanto, é o tipo de produto que verdadeiramente merece ter seu nome atrelado às produções da FromSoftware, cujas comparações entre mestre e discípulo são válidas, nunca forçadas ou exageradas.

Afinal, ele obedece às convenções do gênero de maneira exemplar, fazendo jus à sua descrição nas lojas das plataformas em que está disponível: “uma aventura soulslike situada em um decadente mundo subaquático”. Ele é exatamente como se vende.

Fonte:  Aggro Crab 

Tudo que se espera de um título do gênero está aqui: embates coreografados em que preciso estudar o inimigo, mapas interconectados, progressão de personagem e equipamentos com almas –  aqui nomeadas de microplásticos –, além das icônicas fogueiras, ou Conchas da Caramuja, para marcar o avanço.

Seu grande diferencial, conforme mencionado anteriormente, é a sua narrativa mais centrada, conduzida por belas animações e uma quantidade generosa de diálogos. O oceano de Crab’s Treasure não tem nada de Lordran ou do Reino de Lothric e contempla toda a riqueza (e beleza) do ecossistema marinho, com diversos personagens para conversar – e você compreende de primeira tudo que falam, olha só!

Convite à reflexão

A história inicia quando o nosso protagonista, Kril, um caranguejo-eremita, tem sua concha roubada por um curioso tubarão de brinquedo. Determinado a recuperar sua carcaça e voltar à vida que sempre levou, o crustáceo parte numa jornada rumo às profundezas.

Fonte:  Aggro Crab 

À medida que Kril explora os mares em busca de sua concha, ele descobre a existência da “gosma”, uma infecção que muda o comportamento dos seres que habitam o fundo do oceano. Cabe ao caranguejo, portanto, tentar interromper a ameaça com potencial de decretar o fim do bioma marinho.

Apesar da aparência “fofa”, Crab’s Treasure carrega uma mensagem mais profunda do que sugere à primeira vista. Sob a ótica dos crustáceos, o game nos estimula a refletir sobre alguns dos problemas ambientais da atualidade, concentrando-se, sobretudo, na poluição oceânica causada por produtos químicos e esgotos.

Mesmo dando espaço à crítica, o jogo encontra uma forma inteligente de suavizar o “peso” do tema ao promover diálogos engraçados e personagens cativantes. O oceano de Crab’s Treasure transborda carisma e tem o apelo dos desenhos dos anos 2000 da Nickelodeon, com nítidas inspirações em Bob Esponja.

Fonte:  Aggro Crab 

Os diálogos compõem alguns dos melhores momentos da jornada, graças ao impecável trabalho de localização para o português do Brasil. Expressões do nível de “truta que pariu” são frequentes e, por mais “bobas” que sejam, sempre arrancam um sorriso do rosto.

Ainda que não tenha vozes em português, somente textos, a dublagem em inglês também merece elogios. Kril, por exemplo, tem a voz de um jovem ingênuo e “gente boa”, de alguém que ainda está descobrindo os perigos do mar. Cá entre nós, esse nível de atenção aos detalhes, à dublagem, não é algo que se vê todos os dias em produções independentes.

Habemus parry

Embora tenha um ritmo cadenciado à la…

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