A busca por mobilidade sustentável tem levado os fabricantes de veículos a buscarem alternativas para os combustíveis tradicionais, mas o desafio tem se mostrado muito maior e mais complexo na prática do que se imaginava na teoria. Além dos híbridos e elétricos, outra grande promessa amplamente estudada por anos era a do carro movido a hidrogênio.
O conceito é relativamente simples: o veículo é abastecido com hidrogênio que é processado quimicamente para gerar eletricidade. Essa energia alimenta o motor elétrico que é responsável por fazer o carro andar. No mundo real, porém, a coisa toda tem causado problemas e frustrações nos consumidores que decidiram apostar na ideia.
Donos de Mirai, modelo da Toyota movido a hidrogênio, estão processando a marca nos Estados Unidos por conta do “marketing enganoso”, afirmando benefícios que não se apresentam na vida real. Eles relatam problemas de abastecimento, preço elevado do hidrogênio, autonomia abaixo do prometido, forte desvalorização do carro e outros motivos que o tornam praticamente inutilizável.
Mirai tem design futurista e boa condução, mas deveria ser híbrido ou elétrico.Fonte: Divulgação/Toyota
A ação judicial movida pelo grupo de proprietários alega que tanto a Toyota quanto seus concessionários afirmaram que abastecer o Mirai seria tão fácil quanto colocar gasolina, entretanto, os donos relatam muita dificuldade para achar estações de recarga e não é raro precisar dirigir grandes distâncias para chegar nelas. Além disso, há casos de estações inoperantes, bombas de abastecimento congelando e travando no veículo, exigindo longas esperas até a operação ser concluída e o carro ser liberado com segurança.
A autonomia prometida de até 647km também não tem se mostrado no uso real; alguns donos afirmam conseguir menos de 500km com um tanque completo e, além disso, o preço do combustível quase triplicou em apenas dois anos, de US$13/kg em 2022 para US$36/kg agora em 2024. Por fim, todos esses problemas resultam em uma severa desvalorização: após cinco anos de uso, o valor de um Mirai cai para apenas 19,4% de quando o veículo era 0km.
O Mirai em questão é da segunda geração do modelo, lançada em 2020 e comercializada apenas no estado da Califórnia, nos EUA, devido a limitação da oferta de hidrogênio. A Toyota chegou a importar uma unidade para testes no Brasil em 2022, mas o orçamento de uma única e simples instalação de recarga de hidrogênio ficou em R$4,2 milhões na época, o que representa um investimento muito alto para atender a um único produto de demanda limitada.
Cilindros de armazenamento de hidrogênio são integrados ao monobloco.Fonte: Divulgação/Toyota
Toda essa questão acende um alerta sobre a usabilidade do hidrogênio como alternativa sustentável para as frotas e sua viabilidade comercial. No ano passado, Hiroki Nakajima, diretor de tecnologia da Toyota, afirmou durante a exibição Japan Mobility Show que a empresa já estava com dificuldade de fornecer estações de abastecimento de hidrogênio e que isso estava minando as vendas do Mirai, mas que a marca ainda não desistiria da ideia.
Desde 2015, apenas três fabricantes no mundo comercializaram veículos movidos a hidrogênio para o público geral: além da Toyota com o Mirai, a Honda ofereceu o Clarity (que já saiu de linha) e a Hyundai tem o Nexo. A Honda promete uma versão do atual CR-V com a mesma tecnologia para ainda esse ano, contudo, esse mercado ainda se limita ao estado da Califórnia por ser o único em todo o país a contar com estações de abastecimento para esses veículos.
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