O primeiro concurso “Miss AI” causou rebuliço na internet recentemente. O evento, que premiou uma influenciadora digital que não existe na vida real, é acusado de objetificar mulheres e impulsionar padrões de beleza inalcançáveis para humanos.
A vencedora da vez, a personagem fictícia Kenza Layli, é uma criadora de conteúdo feita por IA com 200 mil seguidores. A modelo digital teria nascido no Marrocos e rendeu o prêmio de US$ 5 mil (cerca de R$ 27 mil na cotação atual) à sua criadora Myriam Bessa, fundadora da empresa Phoenix AI.
“Está aí mais uma ferramenta para objetificar mulheres com inteligência artificial”, pontuou a pesquisadora de IA da Hugging Face, Dra. Sasha Luccioni, ao site Ars Technica.
Desde a popularização de inteligências artificiais generativas capazes de criar imagens, explodiu o número de criadores de conteúdo totalmente feitos por computador. Esses personagens digitais são utilizados como um veículo mais “humanizado” para publicidade, aponta uma reportagem do Financial Times.
Competição de melhor influenciadora feita por IA
A estreia do concurso “Miss AI” promovido pela plataforma de influenciadores Fanvue é mais uma amostra de como esse mercado cresceu. Chamada “World AI Creator Awards”, a competição contou com jurados reais e personagens fictícios também gerados por IA.
O concurso começou na primavera do hemisfério norte e recebeu a participação de 1,5 mil criadores de conteúdo com IA, segundo a Fanvue.
Os critérios para definir o vencedor foram três: beleza (equilíbrio e criatividade para responder perguntas como “O que você faria para tornar o mundo melhor?”); tecnologia envolvida na criação (qualidade das imagens geradas e as habilidades acerca da criação do conteúdo); e o engajamento com o público.
Concurso problemático
Para a pesquisadora Margaret Mitchell, também do Hugging Face, o concurso é não só nocivo, como também confuso. “O objetivo disso era empoderar os criadores [de conteúdo] com IA? Mas o vencedor é gerado por IA? Eles são criadores ou pessoas geradas com IA?”, questionou ao Ars Technica.
“Estremeço ao pensar no dano que isso causará à autoimagem de meninas”, pontuou Mitchell. “A Barbie criou problemas suficientes, e ela nem foi projetada para parecer uma pessoa real”, pontuou.
A definição de padrões de beleza inalcançáveis é mais uma problemática gerada pela popularização de modelos generativos. Essa confusão se soma ao clássico debate: quem é o dono de obras criadas por IA?