CrossFit: riscos x benefícios – TecMundo

Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

O CrossFit é uma modalidade de exercícios que nasceu e cresceu sob polêmicas. Surgiu no início dos anos 2000 e venceu a credencial de moda, para se tornar uma tendência no universo fitness. Entenda suas características e a ciência por trás do fenômeno, para quem sabe logo experimentar e ver sua vida mudar.

CrossFit: o que é?

O CrossFit é, antes de tudo, uma marca. Foi criada pela empresa CrossFit®LLC em 2000 e desde então tem conquistado adeptos que vão de praticantes da população geral, pessoas com obesidade e deficiência, até atletas que levam a modalidade como profissão. Para Axel Gouveia, o CrossFit mudou completamente o cenário de exercício físico no Brasil e no mundo. Veio como uma opção para pessoas que nunca conseguiram se adaptar a exercícios físicos “tradicionais”, como musculação e corrida.

O CrossFit ganhou popularidade no Brasil no começo dos anos 2000.Fonte:  GettyImages 

O caráter híbrido tanto como esporte quanto como exercício, devido à mistura do esporte de alto rendimento e da prática para a saúde, diversão e condicionamento da população em geral são pontos fortes. Você pode ver boxes espalhados pela sua cidade, mas para usarem a marca CrossFit® no nome, os estabelecimentos precisam ser afiliados à marca.

“O reconhecimento legal da empresa já importou mais, na prática, mas hoje com a crescente divulgação científica e um número cada vez maior de cursos nas áreas específicas, como levantamento de peso, ginástica, condicionamento metabólico e programação, é possível atuar na área sem a necessidade e/ou obrigatoriedade de ser afiliado à marca.

Quando “tudo começou”, especialmente no Brasil, era muito difícil encontrar material de estudo específico, cursos voltados à modalidade e profissionais capacitados. Dessa forma, era condição importante e indispensável buscar um estabelecimento afiliado. Hoje em dia, muito mais do que um critério técnico prático, a opção pela afiliação passa a ser uma estratégia de gestão e de marketing para as academias”, afirma David Haron Khalil Reda, bacharel em Educação Física.

A variedade de exercícios presentes na modalidade, bem como sua característica inclusiva (em parte, pois as mensalidades não são baratas) reflete no nome da modalidade utilizada nas pesquisas científicas, dentre as várias existentes, eu e alguns colegas sugerimos uma denominação: fitness funcional. O principal ponto dela é a modalidade não ficar atrelada somente à marca CrossFit.

Muito do crescimento pode ser explicado devido à, alguns aspectos psicológicos, como a motivação dos praticantes.

A motivação de praticantes de CrossFit parece ser diferenciada.A motivação de praticantes de CrossFit parece ser diferenciada.Fonte:  Getty Images 

Motivação

Aqui o que considero o ponto mais forte do CrossFit: seu ambiente. Há uma série de características que favorece a participação das pessoas continuamente, pois existe motivação de melhor qualidade para treinar. Entenda alguns aspectos:

Escalabilidade

Em uma aula de CrossFit você pode fazer os exercícios de acordo com seu nível de condicionamento. Eles têm até classificações para isso: scaled (iniciante), intermediário e RX (avançado), o que permite praticantes em qualquer nível de condicionamento participarem. Para Naty Graciano, o CrossFit é conexão e acolhimento.

Socialização

A construção de um senso de comunidade é proposital no CrossFit e gera muitos benefícios, sendo o principal o de pertencimento – o qual é uma necessidade humana. Além disso, na prática, há um senso de camaradagem entre os praticantes, algo bem distante do que observamos nas academias de musculação, em que os praticantes “fecham a cara” para treinar, especialmente nos estabelecimentos grandes – as academias de rede.

Uma pesquisa mostrou que para treinar mais vezes por semana pode ser importante se conectar socialmente nos treinos, não bastando apenas estar ao lado de outras pessoas treinando. Apesar disso, ainda não há conclusões sobre se as pessoas aderem mais ao CrossFit do que à academia tradicional, pois as evidências são inconsistentes, com alguns estudos mostrando elevada adesão, enquanto outros não.

Variação

É notável a variação de exercícios e métodos utilizados em cada aula. Devido à variedade de atividades contempladas no CrossFit, como ginástica, corrida, levantamento de peso, calistenia, pliometria, entre outros, dificilmente haverá monotonia nos treinos. “Antes da popularização do CrossFit, não víamos pessoas fazendo muitos exercícios como barra fixa, utilizando um Kettlebell, ou fazendo exercícios de levantamento de peso olímpico, o que acho que podemos considerar um grande “desperdício”, já que são movimentos e exercícios que podem trazer inúmeros benefícios”, destaca Axel Gouveia.

Desafio e diversão

Novos exercícios nos desafiam, o que abre oportunidades para nos sentirmos competentes. Psicologicamente isso auxilia significativamente a motivação. Não é à toa que praticantes de CrossFit postam suas habilidades e recordes nas redes sociais constantemente, pois eles se sentem competentes e tem orgulho disso. Além disso, os praticantes se divertem nas aulas. Aspecto esse – a diversão, que praticamente inexiste na tradicional musculação.

Prazer da prática esportiva

Notamos que praticantes de CrossFit são motivados intrinsecamente, ou seja, apresentam melhor qualidade motivacional para treinar, o que caracteriza ter satisfação e prazer na prática. Isso facilita a construção do hábito de fazer exercícios.

O que observo na realidade é que muitas pessoas têm vontade de praticar CrossFit, mas não o fazer por medo, especialmente porque já ouviram falar de algo sobre lesões na modalidade.

Lesões: afinal o CrossFit é altamente lesivo?

A resposta é não. Você pode treinar tranquilo, desde que seja com supervisão profissional. Um dos maiores pesquisadores e treinadores do Brasil no CrossFit, Ramires Tibana afirma que “se você acha que o CrossFit é altamente lesivo, infelizmente não está baseado em evidências científicas”. Ele acaba de lançar sua mais recente obra, o livro “Fitness Funcional: Ciência e prática”, que é um verdadeiro guia sobre a modalidade.

Apesar de ser um tema polêmico, evidências científicas não colocam o CrossFit como altamente lesivo.Apesar de ser um tema polêmico, evidências científicas não colocam o CrossFit como altamente lesivo.Fonte:  Getty Images 

Desfrute de mais essa possibilidade de se movimentar e sobretudo se envolver com a vida. O CrossFit tem em seus ambientes mais do que estrutura física, sendo composto por um conjunto de características que suportam nossas necessidades psicológicas, melhorando a motivação para exercícios. Experimente, você provavelmente não vai se arrepender, é raro isso acontecer com exercícios físicos.

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.

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