Impulsionando a diversidade de gênero na tecnologia: desafios e soluções para um setor mais inclusivo

Por Mariane Lorenzetti.

Apesar da diversidade ter se tornado um tópico muito discutido nos últimos anos, ainda estamos caminhando a passos lentos quando a questão é igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Quando falamos de igualdade de gênero, por exemplo, o mundo levará mais de 134 anos, para alcançar a igualdade total nesse sentido, de acordo com um relatório do Fórum Econômico Mundial.

Quando fazemos o recorte apenas para o setor de tecnologia, o cenário não é diferente e pode ser até pior. De acordo com o “Relatório de Diversidade de Gênero no Setor de TIC”, da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom) de 2023, apesar do número de mulheres no Brasil ser superior ao de homens, atingindo 51,5% da população, elas ocupam apenas 39% dos empregos no setor.

Já a pesquisa “Cargos Tech e Digital 2023”, realizada pela Mercer com 559 empresas e mais de 150 mil profissionais, indicou que os homens ocupam 70% dos cargos digitais e de tecnologia no Brasil.

A diversidade nas empresas é fundamental para seu sucesso.

A falta de incentivo e apoio durante o período escolar também faz muitas meninas não considerarem carreiras em tecnologia. Por isso, há uma sub-representação significativa nos campos de STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática). De acordo com a UNESCO, em 2021 somente 35% dos formados nas áreas de STEM eram mulheres.

Além disso, mesmo quando as mulheres optam por carreiras no setor, podem enfrentar dificuldades em encontrar oportunidades semelhantes às de seus colegas masculinos. Isso pode ser ainda mais desafiador pela falta de redes de apoio e quando não se tem referências ou uma mentoria direcionada para esse público.

Outro fator que contribui para essa disparidade é a cultura organizacional de muitas empresas de tecnologia. Se essas instituições não estiverem atentas a esse ponto, podemos colher altos índices de rotatividade entre as profissionais mulheres. Há também questões como preconceito implícito, disparidade salarial entre outros.

Segundo uma pesquisa conduzida pela empresa de recrutamento executivo Plongê, diretoras de Tecnologia da Informação (TI) ganham em média 48% menos que seus colegas do sexo masculino. Esse levantamento foi realizado no segundo semestre de 2023 e contou com entrevistas de 28 Chief Technology Officers (CTOs), sendo metade deles mulheres.

Outra informação relevante nessa pesquisa é que os profissionais que participaram têm, em média, 23 anos de experiência na área.

Isso reforça a desigualdade de gênero no mercado, independentemente da qualificação e do nível de experiência, ressaltando o quanto estamos longe de alcançar a igualdade em cargos de liderança.

Promover a diversidade não é apenas uma questão de equidade, mas também uma estratégia crucial para o sucesso das instituições. O estudo da PwC “Superando desafios, construindo vantagens: diversidade e inclusão no local de trabalho em 2023”, concluiu que organizações com maior diversidade e inclusão têm 25% mais chances de superar seus concorrentes quando se trata de crescimento da receita e lucratividade. Além disso, a diversidade de gênero nas equipes de liderança pode estar associada a um aumento de até 19% nos lucros.

As empresas que adotam a diversidade estão mais bem preparadas para criar produtos e serviços que atendam às necessidades de uma base de clientes variada, além de promover um melhor entendimento e conexão com esse público.

Para alcançar um setor de tecnologia verdadeiramente inclusivo, é necessário um esforço conjunto de todos. Oferecer programas educacionais que incentivem meninas e jovens mulheres a explorarem carreiras em tecnologia e que mostrem referências de sucesso é essencial. A plataforma de educação da Ada, por exemplo, oferece alguns cursos focados em habilidades digitais e tecnologia, exclusivamente para mulheres.

Porém, é necessário que governos e outras empresas também estejam dispostas a mudarem essa mentalidade para incluírem a igualdade de gênero como fator importante no mercado.

A conscientização é o primeiro passo para a mudança cultural necessária, porém a promoção da diversidade de gênero na tecnologia não é apenas uma responsabilidade social, mas uma oportunidade estratégica para organizações que desejam inovar, prosperar e estar à frente em um mercado cada vez mais competitivo.

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Mariane Lorenzetti é Head de Operações na Ada.

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