Por Roberta Knijnik.
O mês do Orgulho LGBTI+ chegou, e com ele, novamente vemos as ruas, fachadas, prédios oficiais e ações publicitárias enaltecendo a comunidade. Junto do aumento na representatividade, a própria sigla parece estar – e muito provavelmente está – maior a cada ano, e por motivos nobres e até bem intuitivos quando olhamos com calma.
A sexualidade é um conceito muito amplo e em caráter de espectro, que não deve ser reduzido simplesmente aos padrões binários heteronormativos impostos. Imposição, inclusive, responsável por, ainda hoje, encontrarmos tantas pessoas ‘deslocadas’ por não conseguirem se identificar nas “caixinhas” com papéis de gênero e funções sociais pré-definidas.
Inclusão começa pelo reconhecimento
Um dos elementos mais básicos da nossa sociedade estruturada em função da linguagem complexa, é a nossa premissa nos organizarmos em torno do conceito de “nomear” para “significar”. Resumidamente, todas as coisas existem independentes da humanidade, mas para conseguirmos entender, estudar e interpretar essas coisas, antes precisamos nomeá-las.
Quando dizemos que a sigla “aumentou”, efetivamente estamos apenas nomeando caráteres identitários que já existem, independente de mim ou de você e das nossas opiniões. Consequentemente, ao fazer isso estamos também validando, dando voz e reconhecendo a legitimidade dessas pessoas, que provavelmente sequer entendiam o que sentiam, porque não se reconheciam nos grupos nomeados até então.
Celebrar o Mês do Orgulho LGBTI+ é ter orgulho das ações deste mês (e de todos os outros) e, acima de tudo, mostrar seus resultados.
Justamente por essa razão, celebrar o Mês do Orgulho só faz sentido se também olharmos para os resultados das ações de inclusão e visibilização da comunidade LGBTI+ que já existem, para entendermos como ampliá-las.
Visibilidade para a comunidade e para as ações
Outro elemento básico da nossa sociedade é a nossa tendência de aprender e internalizar comportamentos mimetizando pessoas que nos inspiram.
Tanto por isso, é extremamente importante não apenas falar sobre a inclusão da comunidade LGBTI+, mas promovê-la ativamente de forma clara e explicita, e não em subtextos e ações discretas; é literalmente educar pelo exemplo.
Isso significar moldar, ou atualizar, culturas e políticas internas em torno desses valores igualitários. Inclusive, esse é um importantíssimo papel de diretorias de compliance, promovendo ações e treinamentos que vão além de prevenir fraudes, mas esclarecendo como lidar com pessoas de forma humana e acolhedora, independente da zona do espectro de sexualidade que ela se identifica.
Em paralelo, também é preciso mostrar como proceder quando alguém se desvia dessas condutas, independente da posição na hierarquia interna. Homofobia, assédio e transfobia são crimes, independente do cargo, e deixar claro que a empresa está aberta a escutar e acolher as vítimas, e agir sobre denúncias seguindo todo o rigor necessário, já está anos-luz à frente da maioria.
Trabalhar a visibilização dos membros da comunidade também passa pela comunicação, principalmente a escrita. Substituir palavras ou expressões que denotem designação de gênero por expressões de gênero neutro, por exemplo, pode parecer pouco, mas para quem luta para se sentir reconhecido, é um detalhe que faz muita diferença.
Além da cultura da empresa, também é importante trazer o resultado das ações, internas e externas, para todos os funcionários e colaboradores, e não apenas para pequenos comitês e gestores. Estabelecer treinamentos e workshops de inclusão para toda a equipe não faz sentido se apenas meia dúzia terá acesso às dimensões do resultado positivo.
Nós aprendemos, sim, mimetizando exemplos inspiradores, mas a parte da internalização das atitudes só vem ao praticarmos. Quanto mais vemos os resultados dessas práticas, mais nos sentimos agentes da mudança e nos motivamos a continuar seguindo esses valores, até que eles se tornem automáticos.
Moldar o micro para mudar o macro
Mesmo com tantas ações, uma empresa só, por maior que seja, ainda pode ser considerada um microcosmo quando analisamos o contexto da sociedade. No entanto, vivemos na era da informação, onde todos nós, cada um no seu círculo pessoal e de redes, somos influenciadores até certo ponto.
Quando uma empresa como a Intel, com centenas de milhares de funcionários, é eleita pelo segundo ano consecutivo como uma das 100 melhores empresas para pessoas LGBTI+ trabalharem, isso passa uma mensagem fortíssima para o resto do mundo.
Se cada pessoa trouxer para seu cotidiano ao menos um pouquinho dessa cultura inclusiva, o efeito benéfico disso pode chegar à casa dos milhões de pessoas. Trabalhar a inclusão LGBTI+ é muito mais que uma medida para melhorar o ambiente de trabalho.
Isso melhora o mundo, mas para tal, é preciso mostrar o que está sendo feito, como está sendo feito, o que já foi alcançado, e o que ainda precisa melhorar. Celebrar o Mês do Orgulho é isso, é ter orgulho de cada uma dessas ações, grandes ou pequenas, porque o efeito benéfico delas na sociedade é tão grande que não pode ser medido em números.