Ao contrário de estudos científicos que afirmam que o núcleo interno da Terra gira mais rápido do que a superfície do planeta, um estudo recente divulgado por uma equipe internacional de cientistas provou que a gigantesca bola de ferro-níquel está atualmente desacelerando.
O núcleo interno do nosso planeta é uma esfera sólida com uma composição de 85% de ferro e cerca de 10% de níquel, com pequenas quantidades de outros elementos como enxofre, oxigênio e silício. Do tamanho da Lua, e “mergulhada” em um líquido superquente com uma composição química parecida, ela gira devido ao arrasto viscoso.
Segundo o novo estudo, publicado na revista Nature, o núcleo interno começou a diminuir sua velocidade por volta de 2010. “Quando vi pela primeira vez os sismogramas que sugeriam essa mudança, fiquei perplexo”, afirmou em comunicado o autor correspondente John Vidale, da USC Dornsife. E, embora outros autores tenham defendido modelos semelhantes, “o nosso estudo mais recente fornece a resolução mais convincente”, garante o professor.
Como os cientistas conseguiram analisar o núcleo da Terra?
Em 2010, o núcleo interno começou a se mover mais lentamente do que a superfície da Terra.Fonte: USC Graphic/Edward Sotelo
A conclusão de que o núcleo interno está invertendo e retrocedendo seu movimento em relação à superfície do planeta, pois é a primeira vez que ele está girando mais lento do que mais rápido nos últimos 40 anos. Perceber isso representa um desafio, porque o núcleo interno não pode visitado ou visualizado, por se encontrar a mais de 4,8 mil quilômetros sob nossos pés.
Para obter dados mais confiáveis, a equipe adotou uma abordagem inovadora, que consiste em estudar as ondas sísmicas de terremotos repetidos, ou seja, eventos sísmicos que ocorrem em um mesmo local e geram sismogramas idênticos.
Quais as consequências da desaceleração do núcleo da Terra?
Os autores rastrearam a atividade das ondas sísmicas no mundo inteiro.Fonte: Wang et al./Nature, 2024
Para comprovar suas hipóteses, os pesquisadores coletaram dados sísmicos de 121 terremotos repetidos nas Ilhas Sandwich do Sul entre 1991 e 2023, além de testes nucleares gêmeos soviéticos (1971-1974), franceses e americanos, presentes em outros estudos do núcleo interno.
Conforme Vitale, a causa da desaceleração da velocidade do núcleo interno é um fenômeno complexo e ainda em estudo. Ela resulta da combinação de três fatores interligados: constante agitação do núcleo externo (que gera o campo magnético da Terra), bem como dos “puxões” gravitacionais do manto rochoso superior às duas camadas.
Quanto possíveis consequências da mudança no movimento do núcleo interno em relação à superfície da Terra, Vidale explicou que, embora exista a possibilidade real de um aumento da duração dos nossos dias, isso se dará apenas “na ordem de um milésimo de segundo, quase perdido no barulho dos oceanos agitados e da atmosfera”, conclui.
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