The Rogue Prince of Persia pode se tornar maior que Dead Cells – Review

Parece que 2024 é, de fato, o ano do retorno triunfante de Prince of Persia. Depois de ter ficado mais de 13 anos na geladeira, a franquia voltou em grande estilo com Prince of Persia: The Lost Crown. A Ubisoft, vale lembrar, até tentou reviver o hype de sua trilogia com o anúncio de uma versão renovada de Prince of Persia: The Sands of Time, mas é sabido que o remake passou por problemas sérios de desenvolvimento, embora seu projeto ainda esteja em andamento.

Prince of Persia: The Lost Crown, para mim, figura no top 3 de jogos do gênero metroidvania lançados este ano. Em minha análise publicada aqui no site, The Lost Crown foi rotulado como um metroid moderno, nos moldes de Metroid: Samus Returns e Metroid Dread, por encontrar o equilíbrio ideal entre combates, desafios de plataforma 2D e enigmas inventivos.

O que ninguém imaginava é que teríamos um novo Prince of Persia cinco meses após o lançamento de The Lost Crown. Revelado ao mundo de surpresa, no mesmo dia em que a imprensa pôde compartilhar suas primeiras impressões sobre o jogo, The Rogue Prince of Persia consolida uma parceria inusitada entre Ubisoft e Evil Empire, cocriadora de Dead Cells, conhecida sobretudo pelo excelente DLC, Dead Cells: Return to Castlevania.

Disponível em acesso antecipado no PC desde o dia 27 de maio, The Rogue Prince of Persia pega emprestado o DNA do estúdio francês, autoridade quando o assunto é rogue, e entrega uma experiência familiar a quem gosta de Dead Cells, mas que deve ter gosto de novidade para os fãs da icônica série de ação e aventura. Confira nossas impressões do game em acesso antecipado na review a seguir!

Skin de Dead Cells, sim, mas com personalidade própria

Antes de tudo, preciso tirar o elefante branco da sala: sim, Rogue of Prince of Persia é uma skin de Dead Cells. O novo game se porta como Dead Cells em quase tudo: nos mecanismos de combate, na progressão, no loop e até na maneira de explorar o mundo e desbloquear fragmentos da história. Está tudo ali, sem tirar nem pôr, o que é ótimo.

Muita gente pode ver a influência direta de Dead Cells como um ponto negativo, talvez por achar que The Rogue Prince of Persia, à primeira vista, não tem identidade, uma concepção equivocada de quem só bate o olho em um vídeo de gameplay, sem se aprofundar. Goste ou não da estética de The Rogue Prince of Persia, não há como negar que há muita personalidade ali.

A começar pelo estilo de arte adotado pela desenvolvedora, influenciado pelas miniaturas persas dos antigos contos, também mesclando recursos visuais dos quadrinhos franco-belgas. Tanto os cenários quanto os personagens se apresentam como charmosas pinturas interativas, com cores vívidas que realçam a beleza dos mapas carregados de inspirações da mitologia persa, cada qual com uma paleta única.

Outro fator que contribui para dar ao jogo um toque mais, digamos, Prince of Persia, é o próprio parkour. Bem mais presentes do que em Dead Cells, os momentos de plataforma representam um elemento crucial da jogabilidade e ditam um ritmo diferente às runs, que não se limitam somente aos combates.

Como a exploração é mais vertical, as áreas exigem que você execute manobras acrobáticas não apenas para superar obstáculos e progredir na história, mas também para encontrar baús com loot, enfurnados nos cantos mais improváveis da Pérsia. Você pode, inclusive, usar ferramentas e armadilhas a seu favor, aproveitando a destreza do nosso protagonista para abrir novos caminhos e possibilidades de ataque. Movimentar-se o tempo todo é um requisito fundamental para sobreviver.

Fonte:  Ubisoft 

Combate leve, viciante e punitivo

O combate, tal qual o de Dead Cells, é simples, viciante e imprime um ritmo frenético, revelando seu flerte com o hack and slash. Sem os facilitadores de sua principal influência, The Rogue Prince of Persia é punitivo e, portanto, não perdoa as falhas do jogador. A morte sempre serve de aprendizado, e cada recomeço é uma nova chance de colocar em prática o conhecimento absorvido.

Conforme comentei no parágrafo acima, The Rogue Prince of Persia não conta com recursos de acessibilidade em sua versão em Early Access, isto é, não é possível reduzir a dificuldade ou calibrar o dano que os inimigos causam, por exemplo, sendo mais roguelike que roguelite nesse sentido. Além disso, quase não há melhorias permanentes a serem feitas no personagem, o que torna a progressão lenta e um tanto desestimulante.

O que você pode fazer é acumular Spirit Glimmers (o nome do item ainda não foi traduzido oficialmente) para desbloquear armas e medalhões permanentes, de modo a ampliar o seu leque de opções em cada partida. Pelo fato de o título ainda estar em desenvolvimento e recebendo melhorias constantes a partir do feedback da comunidade, creio que seja apenas uma questão de tempo até que ele tenha um sistema de progressão mais robusto, talvez recebendo um arsenal maior de armas e ferramentas — o número ainda é bem tímido, vale ressaltar.

Fonte:  Ubisoft 

Por mais frustrante que seja não ter um senso de progresso e evolução, não na intensidade que se espera de um jogo assim, o combate se sustenta e tem potencial de manter o jogador engajado por muito tempo, mesmo caindo na tal da repetição depois da primeira dezena de horas. O ato de repetir, aliás, é um dos pilares do gênero rogue e não chega a ser uma ressalva para quem gosta da proposta, o que é o meu caso — e possivelmente o seu que está lendo este review em progresso.

Pacote ainda modesto, embalado por uma história despretensiosa

Considerando que The Rogue Prince of Persia foi liberado em acesso antecipado e ainda está em sua primeira versão, o conteúdo inicial satisfaz e até ganha uma sobrevida devido à alta dificuldade, mas passa longe de estar completo, trazendo um número de chefes que dá para contar nos dedos de uma mão.

Por outro lado, já existem bifurcações nas fases, com diferentes caminhos para seguir a partir de um mesmo ponto, além de missões secundárias a serem concluídas em partes distintas da trama. Isso demonstra um empenho da Evil Empire em criar mapas densos e que, de alguma forma, estão interligados, ainda que suas estruturas sejam geradas de maneira aleatória.

Fonte:  Ubisoft 

A história, por sua vez, é despretensiosa e em nenhum momento cogita roubar o protagonismo do combate. O nosso objetivo é basicamente livrar a Pérsia de um exército Huno corrompido, cujo poder reside em uma magia xamânica. Com a ajuda de um artefato que ganhou quando criança, o protagonista, filho do Rei Peroz, tem o poder de voltar no tempo ao ser derrotado, sendo sempre transportado ao último local seguro em que esteve: o Oásis próximo à capital.

Apesar de não ser o foco, a trama oferece pedaços até que generosos da lore à medida que avançamos. Conforme progredimos, os acontecimentos do início da jornada passam a fazer mais sentido e nos pegamos interessados em saber mais sobre a origem do poder de Huno. Torno a dizer que a história, apesar de bem contada, é só um pretexto para cair no loop do gameplay e se viciar.

Por fim, no estado atual em que o jogo se encontra, é importante destacar que não há legendas em português do Brasil. A produtora já confirmou que está trabalhando na localização para o nosso idioma, embora não tenha fornecido uma janela de lançamento. Aguardemos, então.

Fonte:  Ubisoft 

Veredito

Nem o fã mais otimista poderia prever outro grande título da franquia Prince of Persia tão cedo, meses após a chegada de Prince of Persia: The Lost Crown. The Rogue Prince of Persia usa o DNA de Dead Cells para estabelecer uma sólida base de rogue, mas modifica o gene da experiência com os elementos acrobáticos que caracterizaram a série da Ubisoft.

Mesmo estando um pouco “sem gosto” no quesito conteúdo, especialmente no que se refere aos chefões e às melhorias permanentes, The Rogue Prince of Persia tem potencial de ser tão grande quanto Dead Cells, só precisa marinar por mais tempo para que seu sabor se torne mais intenso ou pelo menos equiparável ao de sua maior fonte de inspiração.

Nota do Voxel (acesso antecipado): 80

Pontos positivos

  • Combate simples e eficiente, que flerta com o ritmo intenso de um hack and slash;
  • Boa diversidade de armas e ferramentas, apesar do arsenal limitado;
  • Propõe um ciclo viciante de gameplay, tal como um bom rogue deve fazer;
  • Traz mais desafios de plataforma que Dead Cells, sua principal referência;
  • Estilo artístico é um sopro de frescor à franquia da Ubisoft;
  • Exploração mais vertical, que faz bom uso dos movimentos acrobáticos do protagonista.

Pontos negativos

  • Conteúdo modesto em seu acesso antecipado;
  • Carece de legendas em português no lançamento em Early Access;
  • Sistema tímido de progressão, sem upgrades permanentes para destravar.

The Rogue Prince of Persia foi gentilmente cedido pela Ubisoft para o propósito de análise no PC. O jogo já está disponível em acesso antecipado por meio da Steam.

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