Nos últimos anos, o pedido “Come to Brazil” dos fãs – que já virou praticamente um bordão dos brasileiros nas redes sociais de artistas internacionais – nunca foi tão atendido. O mercado nacional de entretenimento musical segue bastante aquecido desde o fim da pandemia.
Exemplo disso é que, desde 2022, vários artistas internacionais de peso passaram pelo Brasil, incluindo Coldplay, Taylor Swift e The Weeknd, que apresentaram turnês grandiosas e milionárias. Com tantos shows acontecendo por aqui, um fator (e talvez o mais importante) acaba chamando a atenção: os preços cobrados.
Em alguns casos, um ingresso chega a valer um salário mínimo. A entrada inteira de um dia no Lollapalloza 2024, por exemplo, quase alcança os R$ 1.320. Mas por que os shows internacionais chegam ao Brasil custando valores exorbitantes?
Valor dos ingressos cobrados no Lollapalloza chamam atenção
A verdade é que os motivos são vários, desde o aumento de custo com infraestrutura dos shows até a desvalorização do real em relação ao dólar. Confira abaixo alguns fatores que deixam aquele show do seu artista favorito tão caro no Brasil.
Infraestrutura e dólar mais caro
Para começo de conversa, o mais óbvio: artistas internacionais têm seus cachês cobrados, na maioria das vezes, em dólar. A diferença entre o Real e a moeda americana, é claro, resulta no valor salgado cobrado do público – somando ainda ao fato de que o Brasil conta com uma das maiores cargas tributárias do mundo.
Nesse sentido, a equipe dos artistas está sujeita a tributações maiores de importação de serviços, além de que a infraestrutura dos shows está cada vez maior. Várias produtoras, inclusive, alugam equipamentos de som e iluminação de empresas de eventos sediadas no exterior.
Também é preciso adicionar ao pacote a temida taxa de conveniência, cobrada pelos sites de compra online, considerando o serviço prestado e pela comodidade ao usuário. O valor é geralmente de 20% do ingresso.
Aqui, vale lembrar que a taxa de conveniência é bastante criticada pelo público e vem sendo tema de discussões no meio judiciário.
Demanda aquecida
Bom, o aumento do valor cobrado em ingresso de shows internacionais até poderia ter diminuído a procura do público, mas isso não aconteceu. Na verdade, os brasileiros continuam pagando os preços salgados ano após ano.
Bruno Mars fará maratona de 14 shows no Brasil em outubro e novembro
Um exemplo foi o show da cantora pop Taylor Swift, em novembro do ano passado. Os ingressos iam de R$ 190 (meia-entrada na cadeira superior) a R$ 1.050 (pista premium inteira). A venda foi acirrada e os ingressos acabaram em menos de uma hora. Os nove shows da banda mexicana RBD no Brasil também tiveram 100% dos ingressos vendidos e os valores chegavam a R$ 850,00 (pista premium inteira).
Já neste ano, os 14 shows do cantor Bruno Mars no Brasil – que tiveram ingressos saindo por até R$ 1.250 (pista premium) – também tiveram grande adesão do público.
Ou seja, a alta demanda por espetáculos também leva ao aumento dos preços dos ingressos. E, na visão mercadológica das empresas, se os ingressos estão sendo vendidos, não há motivos para diminuir o valor cobrado.
Gringos também pagam caro
Se você achou que era só no Brasil que os fãs precisam economizar por meses para comprar o ingresso de um show, está enganado. Vários outros países, incluindo da América do Norte e da Europa, também vem passando pela mesma situação.
Se antes um show do Nirvana nos Estados Unidos custava meros U$ 17, você nunca poderia dizer o mesmo sobre qualquer outro show atualmente.
Em entrevista para a Forbes estadunidense, o editor sênior da Billboard Eric Renner Brown explicou que, além de questões como a inflação, os tempos mudaram e os fãs querem mais. “Quando você olha para essas turnês de arena e estádio extremamente produzidas, os fãs esperam uma experiência de show mais imersiva e multifacetada do que eles poderiam esperar anos atrás”, contou.
Brown também ressalta o impacto da pandemia no encarecimento dos ingressos. Isso porque, com o fim dos shows em todo o mundo, muitos profissionais da área precisaram migrar de área para conseguir dinheiro.
“Muitos motoristas de ônibus e caminhoneiros que transportavam equipes e equipamentos de som e luz, por exemplo, deixaram o ramo de shows. Muitos foram trabalhar em caminhões de carga, na Amazon ou em outras grandes empresas de transporte de mercadorias, já que isso continuava a todo vapor durante a pandemia”, comentou.
Assim, quando os shows voltaram, havia poucos funcionários e, consequentemente, as pessoas disponíveis para o serviço puderam cobrar a mais pelo trabalho.
O mesmo vale para os artistas que ficaram sem se apresentar durante a pandemia. Muitos músicos menores, que dependem em sua maioria do dinheiro arrecadado nos shows, precisaram aumentar o valor dos ingressos para recuperar o que ‘perderam’ durante os dois anos longe dos palcos.