A corrida de trilhões para atender à demanda por profissionais no mercado de tecnologia

A tecnologia evolui de maneira acelerada, o que nos leva a avanços significativos na grande maioria dos segmentos. No entanto, isso resulta em uma demanda enorme por profissionais na área e, resumindo, estamos longe de dar conta da necessidade atual e futura.

Como a tecnologia se transforma rápido demais, não há tempo suficiente para formar a nova geração de trabalhadores. E quando se formam, é possível haver uma defasagem do conhecimento que têm em relação à necessidade do mercado. Um exemplo disso é a alta demanda por especialistas em inteligência artificial.

De acordo com o Relatório de Tendências Globais de Talentos do LinkedIn, vagas que mencionam essa tecnologia mais que triplicaram nos últimos dois anos no Brasil, mas as empresas não conseguem contratar pessoas qualificadas o suficiente.

Esta lacuna não se restringe à inteligência artificial. Segundo um estudo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), as companhias irão necessitar de aproximadamente 797 mil profissionais até o próximo ano. No entanto, apenas 53 mil pessoas devem se formar anualmente até lá.

Vagas que mencionam IA mais que triplicaram nos últimos dois anos no Brasil

Considerando o período de cinco anos do levantamento, iniciado em 2021, a estimativa é de um déficit anual de 106 mil profissionais. Os impactos da alta demanda não são sentidos somente no Brasil. O IDC mostrou que mais de 90% das empresas em todo o mundo serão impactadas pela falta de profissionais até 2026, o que pode resultar em um prejuízo de cerca de 5,5 trilhões de dólares em atrasos em produtos, falta de competitividade e perda de negócios.

A pergunta de trilhões, portanto, é como atender a esta demanda para reduzir as vagas em aberto? Apesar de ainda não haver uma resposta definitiva, há algumas mudanças que podem contribuir para atenuar a situação.

Uma delas é priorizar o uso de plataformas que não exijam que os desenvolvedores se preocupem com a atualização de estruturas ou de sistemas legado. Assim eles ganham tempo para usar todo o potencial criativo na produção de novas soluções e também para se especializarem em novas tecnologias.

Paralelamente, é importante que se produzam meios para democratizar o acesso a inovações. É comum que algo novo seja mais complexo e se torne mais fácil de trabalhar à medida que mais pessoas se aprofundam e criam novas formas de utilização.

Um exemplo disso são plataformas low code, que permitem que desenvolvedores com diversos níveis de conhecimento trabalhem juntos no mesmo projeto, agilizando as etapas e a entrega. Outro grande benefício deste modelo é a maior troca de experiências, o que normalmente leva a novas ideias e, consequentemente, melhores resultados.

Outro ponto crucial que deve passar a fazer parte da estratégia de crescimento das companhias é o planejamento para o desenvolvimento profissional desde o recrutamento.

Em vez da abordagem mais tradicional da busca por habilidades específicas a curto prazo, é preferível também analisar habilidades não técnicas que podem ser aproveitadas em mais de um cenário, como solução de problemas e relacionamentos.

Estas características, inerentes ou com base em experiências anteriores, não só são úteis, mas também fazem com que as empresas se tornem mais resilientes a eventuais mudanças, já que os colaboradores têm esse perfil. Além disso, pode ser um importante diferencial para a retenção e contratação de talentos.

Além destas medidas, é importante que se siga investindo em espaços e oportunidades para desenvolver profissionais para o futuro, retê-los, e ampliar o acesso à tecnologia. Os polos tecnológicos que já temos no Brasil são exemplos desse movimento. O Porto Digital, em Recife, é o maior parque tecnológico urbano da América Latina e chegou a um faturamento de R$ 5,4 bilhões em 2023, 14% a mais do que no ano anterior.

Ali estão 415 empresas, mais de 18 mil colaboradores, e se solidificou com o terceiro maior setor de serviços de Recife, ficando atrás somente de saúde e construção civil. O Tecnopuc, em Porto Alegre, é a casa 250 companhias e 6,5 mil pessoas que atuam nelas, e temos outros ótimos exemplos, como o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, em Belém (PA), o Parque Tecnológico Sapiens, em Florianópolis, e o Parque Tecnológico de San Pedro Valley, em Belo Horizonte.

Ainda temos um longo caminho até conseguirmos sanar a questão da demanda por profissionais, mas existem meios para chegarmos lá. É preciso que haja, acima de tudo, uma mudança cultural no modo como se aborda o trabalho e se tratam os colaboradores.

* por Fernando Arditti, vice-presidente e gerente-geral da WSO2 na América Latina

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